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    Bernardo Mello Franco

    Direita, volver

    13/05/2016 02h00

    BRASÍLIA - A posse de Michel Temer deve marcar a mais brusca guinada ideológica na Presidência da República desde que o marechal Castello Branco vestiu a faixa, em abril de 1964. Após 13 anos de governos reformistas do PT, o país passa ao comando de uma aliança com discurso liberal na economia e conservador em todo o resto. O eleitor não foi consultado sobre as mudanças.

    O cavalo de pau fica claro na escalação do ministério, que sugere desprezo à representação política das minorias. Ao substituir a primeira presidente mulher, Temer montou uma equipe só de homens, o que não acontecia desde a era Geisel. Os negros também foram barrados na Esplanada.

    O Ministério da Educação foi entregue ao DEM, partido que entrou no Supremo contra as ações afirmativas. A pasta do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, acabou nas mãos de um deputado do PMDB que já se referiu ao benefício como uma "coleira política".

    Para a Justiça, Temer escolheu o secretário de Segurança de São Paulo. Ele assume com explicações a dar sobre violência policial e maquiagem de estatísticas de criminalidade.

    A fauna do Planalto também mudou radicalmente em poucas horas. Além dos políticos que restaram ao seu lado, Dilma Rousseff se despediu cercada por gente de esquerda, como sindicalistas, ex-presos políticos e militantes de movimentos sociais.

    A chegada de Temer encheu o palácio de representantes da direita brucutu do Congresso, como os deputados Alberto Fraga e Laerte Bessa, da bancada da bala, e o ruralista Luis Carlos Heinze, que já se referiu a quilombolas, índios e homossexuais como "tudo que não presta".

    Depois do pronunciamento de estreia, o presidente interino se reuniu a portas fechadas com líderes religiosos e parlamentares evangélicos. Estavam presentes os pastores Silas Malafaia e Marco Feliciano, que defendem ideias como o projeto da "cura gay". Eles voltaram para casa entusiasmados com o novo regime.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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