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    Bernardo Mello Franco

    Quanto mais quente, pior

    19/01/2017 02h00

    Dominick Reuter/AFP
    O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, acena para a imprensa na Trump Tower em Nova York

    BRASÍLIA - Cientistas acabam de confirmar que 2016 foi o ano mais quente da história. O anúncio é alarmante, mas teve sabor de notícia velha. Afinal, é a terceira vez seguida que o mundo bate recorde de calor.

    A elevação das temperaturas tem tudo a ver com o desprezo das autoridades pelo meio ambiente. As grandes potências levaram décadas para admitir o problema. Agora o planeta corre o risco de novo retrocesso com a posse de Donald Trump.

    O futuro presidente dos Estados Unidos já declarou que considera o aquecimento global uma bobagem. Na eleição, indicou que boicotará o Acordo de Paris, que fixou metas de corte nas emissões de carbono.

    A formação do novo governo sugere que as ameaças devem ser levadas a sério. Trump vai entregar o Departamento de Estado a Rex Tillerson, ex-presidente da petroleira ExxonMobil. O chefe da agência ambiental será Scott Pruitt, outro aliado das empresas poluidoras.

    "Será o gabinete mais fóssil da história americana", resume o pesquisador Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.

    Ele diz que a realidade está confirmando as piores previsões da ciência. "Fenômenos extremos, como secas e enchentes, são cada vez mais frequentes. O planeta já estava no cheque especial, e agora o clima começou a cobrar os juros", alerta.

    O aquecimento global também gera danos por aqui. De acordo com o Observatório, mais de 1.500 municípios do país decretaram situação de emergência ou calamidade em 2015 por razões ligadas ao clima.

    Com raras exceções, as autoridades brasileiras ignoram o assunto. A agenda ambiental perde espaço no Congresso, cada vez mais dominado pelos ruralistas, e os novos prefeitos parecem mais interessados em produzir fotos para os jornais.

    Brasília acaba de iniciar um racionamento de água, mas a medida não afetará as torneiras dos políticos. Áreas mais valorizadas, como o Plano Piloto, serão poupadas dos cortes.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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