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    Clóvis Rossi

    O Brasil e o risco Trump

    03/03/2016 02h00

    Bom, é hora de começar a pensar no que era impensável, risível até, faz poucos meses: Donald John Trump tem boas possibilidades de ser o 45º presidente dos Estados Unidos.

    Claro que a prudência mais elementar manda ressalvar primeiro que ainda falta a Trump consolidar seu triunfo no Partido Republicano e, segundo, que ele terá que bater Hillary Clinton.

    Mas, depois da Superterça, parece improvável, para dizer o mínimo, que o biliardário perca a candidatura republicana.

    Quanto a derrotar Hillary, ela ainda lidera nas pesquisas nacionais (52% a 44% na mais recente, a da CNN na segunda, 29). Mas minha sensação é a de que, conseguida a candidatura republicana, Trump terá criado o chamado "momentum" que o levará ao triunfo em novembro.

    Disputa pela Casa Branca

    Afinal, "os eleitores estão mais irritados e frustrados do que em qualquer outro momento dos últimos tempos", como escreve Peter Hakim, do Interamerican Dialogue, um sagaz observador da realidade americana e latino-americana.

    O passeio de Trump nas primárias republicanas mostra que essa irritação está sendo descarregada contra quem quer que represente o establishment. E Hillary Clinton é o establishment por excelência.

    Trump de certa forma reproduz Fernando Collor no Brasil: elegeu-se como "caçador de marajás", quando era "criador de marajás". Trump é do establishment econômico-social, mas pretende ser "outsider" no mundo político.

    Trump presidente seria "um desastre global", escreve Martin Wolf, o principal e brilhante colunista econômico do "Financial Times".

    Logo, Trump seria um desastre para o Brasil, se o Brasil continuar a fazer parte do globo quando ele assumir, em janeiro.

    Desastre indireto e direto. Indireto, por exemplo, se Trump cumprir sua promessa de impor uma sobretaxa de 45% às importações provenientes da China.

    Seria uma declaração de guerra comercial —e uma guerra comercial entre as duas maiores potências globais (e dois dos maiores parceiros do Brasil) descarrilaria a já hesitante recuperação da economia global.

    O Brasil seria inexoravelmente atingido quando, se Deus ajudar, estiver, no início de 2017, pondo a cabeça para fora do pântano econômico em que mergulhou.

    O desastre direto se dará se Trump cumprir a promessa de deportar 11 milhões de imigrantes sem documentos que vivem nos EUA.

    É óbvio que a vítima principal seriam os mexicanos, os mais numerosos nessa categoria. Mas há cerca de 100 mil brasileiros em situação irregular nos EUA que entrariam na mira. Mesmo que Trump, ocupado com outros temas, deixe de lado essa promessa, o mal estará feito.

    Sua ascensão nas primárias partidárias e, mais ainda, sua vitória na eleição presidencial é e será o sinal de um triunfo da intolerância, do racismo e da xenofobia.

    É eloquente que o pré-candidato tenha hesitado em repudiar o apoio da Ku Klux Klan, o movimento mais raivoso pró-supremacia branca.

    O que Trump semeia é um espírito Ku Klux Klan que se voltará não tanto contra negros mas contra latinos em geral, brasileiros inclusive.

    Editoria de Arte/Folhapress
    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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