Poder? Riqueza? Sucesso e fama? Conquistas amorosas? Triunfos sexuais? Qual é a coisa que um homem mais quer, afinal?
Essa é a pergunta que me foi colocada em mais uma entrevista. A resposta que me veio de imediato não estava na lista. O que um homem mais quer, eu disse sem hesitar, é a aventura –ele quer qualquer coisa, com a condição de que seja uma aventura. Mas, claro, não é fácil definir o que é a aventura.
Giorgio Agamben, o filósofo contemporâneo que mais leio, acaba de publicar um livrinho de 75 páginas sobre o tema, "L'Avventura" (editora Nottetempo).
Agamben cita "Yvain, O Cavaleiro do Leão", de Chrétien de Troyes, que, no século 12, escreveu cinco maravilhosos romances de cavalaria sobre os cavaleiros do rei Artur.
Yvain diz: "Sou um cavaleiro que procura o que ele não pode achar; muito procurei e nada achei". Em resposta, ele recebe a pergunta: "O que você gostaria de encontrar?". Réplica de Yvain: "Aventura, para pôr à prova minha valentia e minha coragem".
Dos romances de Chrétien de Troyes, meu preferido é "Erec e Enide", que conta a história seguinte: Erec, muito valente, casa-se com Enide, eles se amam de paixão e passam dias e noites na cama. Será que Erec só pensa na sua bela?
Eis que, um dia, ele acorda, arma-se, sobe em seu cavalo e sai pelo mundo puxando uma mula sobre a qual está Enide, bela e indefesa. Erec procura encrenca, ou seja, perigos e riscos –como se diz, ele se aventura.
Uma moral possível da história é que o amor pode comprometer a aventura, que é o que mais importa para um homem. Conselho: se você for um homem, não deixe que a vida conjugal se torne uma desculpa para ficar na cama; ao contrário, leve a sua amada para a aventura, junto com você.
Seria um erro pensar que os cavaleiros de Chrétien de Troyes seriam homens muito diferentes da gente. Ao contrário, os cavaleiros medievais em geral, sobretudo até o século 12 ou 13, são uma espécie de pré-estreia da modernidade.
Basta ler qualquer obra de Georges Duby sobre a sociedade medieval: a ordem da cavalaria não foi inventada por reis, príncipes, duques e outros nobres desejosos de criar e alistar uma categoria de militares exímios.
A cavalaria começa antes da nobreza e tem todas as caraterísticas da modernidade, a começar pelo fato de que ninguém é cavaleiro pela família na qual nasceu –quem é destinado à cavalaria deixa sua família cedo, antes dos dez anos, para começar o treino. E, justamente, o estatuto de cavaleiro é conquistado por uma formação (duríssima), pelas qualidades pessoais e pelos méritos, exatamente como uma posição social na modernidade.
Só mais tarde (a partir do século 12, justamente), a cavalaria é recuperada, digamos assim, pela nobreza que começa a se formar naquela época. Na aurora da era feudal, a sociedade de castas europeia (o Antigo Regime) ainda não tinha nascido, e a cavalaria era portadora de valores parecidos com os de hoje: tudo é possível para quem está disposto a se testar, a se por à prova.
O ideal da aventura, como tempo das provas em que mostraríamos ao que viemos e de que somos capazes, é um traço central da modernidade. Esse traço talvez seja especialmente masculino por ser uma herança do ideal de valentia de um soldado: o cavaleiro medieval.
Claro, a aventura é desejada para que o outro me julgue e me reconheça –o outro sendo a Dama, Deus ou eu mesmo. Por isso, a aventura (o que me acontece) se confunde com o relato da aventura: ela é que transforma a minha vida em história que vale a pena ser contada.
Justamente, desde a época de Chrétien de Troyes, lembra Agamben, a palavra "aventure" designa tanto a prova pela qual passamos como, indissociavelmente, o relato de nosso teste. Os percalços da vida só se tornam realmente nossas aventuras quando conseguimos incorporá-los na nossa história.
Em outras palavras, a vida é aventura (e é boa) quando ela merece ser narrada.
Voltando ao nosso título, se você, homem ou mulher, quiser saber o que quer um homem e não tiver medo de descobrir que a vontade de aventura é imperiosa, desesperada e estranhamente abstrata, há um livro breve, envolvente e imperdível: "No Mar", do holandês Toine Heijmans (editora CosacNaify). É a história de um homem comum que precisa demonstrar seu valor, a si mesmo, à sua mulher e à sua filha.
Italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas.