Ivete Sangalo virou involuntariamente uma das vítimas de um escândalo: ela ganhou R$ 650 mil para fazer um show na inauguração de um hospital público no interior do Ceará. Obviamente o dinheiro seria melhor aplicado no hospital.
Ela não tem culpa de nada, apenas cobrou seu cachê de mercado --e um governo perdulário pagou, interessado em oferecer circo. Não tem culpa, mas ela vira um dos símbolos daquilo para o que sempre tento chamar atenção: perto do desperdício, devidamente legal, a corrupção é um problema menor.
O fato de ser legal diminui o impacto moral. Mas não o impacto no bolso do contribuinte. Vejam agora com a mudança dos prefeitos quantas obras são descontinuadas, programas suspensos, falta de coordenação entre políticas públicas, inchaço na folha de pagamento, ineficiência dos servidores, obras desnecessárias, lentidão burocrática.
Atentem sobre as verbas de publicidade que são gastas apenas para promover os governantes e são muito, mas muito mais altas do que as gastas com Ivete Sangalo.
E assim vamos: pagando quatro meses do ano de nossos salários para manter os governos.
Ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.