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    Hélio Schwartsman

    Efemérides

    23/03/2014 03h00

    SÃO PAULO - Começam a aparecer os artigos e reportagens especiais sobre o cinquentenário do golpe de 64. Não sou muito dado a efemérides. É apenas uma caprichosa queda por números cheios que nos faz prestar atenção aos 50 anos e ignorar solenemente os 49 ou os 51.

    De toda maneira, não tenho nada contra refletir sobre a história, em datas redondas ou quadradas. Mas por que o fazemos? As razões geralmente alegadas são instrumentais. "Aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo", assevera a máxima de George Santayana. O filósofo, vale alertar, empregou a frase num contexto bem diferente, em que discutia aspectos psicológicos do homem, mas ela acabou ganhando fama como se tivesse sido concebida para explicar a relação de um povo com sua história. Será que neste novo papel ela é verdadeira?

    Numa interpretação literal, não. Objetivamente, são quase nulas as chances de uma unidade política ou nacional reviver a própria história. E isso não ocorre porque o homem seja sábio, mas simplesmente porque a matemática não favorece a repetição. Há um número quase infinito de modos de divergir e só um de convergir. Mesmo quando um dirigente deliberadamente tenta reencenar um evento histórico, dificilmente consegue.

    E se formos um pouco menos rígidos? Existem por certo algumas armadilhas políticas e econômicas nas quais é possível cair mais de uma vez. Todos sabemos, ou deveríamos saber, por exemplo, que o tabelamento de preços não funciona para conter a inflação. O imperador Diocleciano tentou no ano 301 e fracassou, bem como todos os que, de lá para cá, apostaram na fórmula.
    Será que, numa versão assim mais fraca, o aforismo de Santayana ainda sobrevive? Em termos. Há lições que o presente pode tirar do passado, mas é difícil descobri-las estudando a história de um único povo. Os padrões só aparecem quando comparamos várias experiências diferentes.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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