SÃO PAULO - Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, certo? Errado. Ele não só pode cair no mesmo lugar como na mesma pessoa. O norte-americano Roy Sullivan foi atingido ao menos sete vezes e sobreviveu. Improvável? Há mais. Não apenas é possível como provável que certas pessoas ganhem repetidas vezes na loteria e que um golfista acerte o buraco numa única tacada em dois dias consecutivos. Como?, pergunta-se o leitor são.
Explicar isso é a missão que David Hand, professor emérito de matemática do Imperial College, se autoatribui em "O Princípio da Improbabilidade: Por Que Coincidências, Milagres e Eventos Raros Acontecem Todos os Dias", lançado há pouco no mercado de língua inglesa. Ele não só é bem-sucedido como ainda nos oferece bons "insights" sobre a crise de 2008, superstições e até nos faz refletir sobre religião e a indeterminação quântica do Universo.
Para Hand, embora a probabilidade de certos eventos, como ser atingido por um raio, seja mínima na escala individual, uma série de leis estatísticas, às quais ele dá o nome coletivo de princípio da improbabilidade, faz com que, em determinadas circunstâncias, ela se materialize.
A chance de uma pessoa ser morta por um raio num ano qualquer é de uma em 300 mil. É baixa o bastante para você riscar raios da lista de ameaças. Mas somos 7 bilhões terráqueos. Isso significa que a chance de NINGUÉM ser morto por raio num ano é de 10^-10.133 -o que é quase infinitesimal. Conheça a lei dos números verdadeiramente grandes.
Outra dessas leis caprichosas é a alavanca de probabilidades. Sullivan, o sujeito atingido sete vezes, era guarda florestal. Isso significa que andava na floresta sob tempestades, o que contribuiu decisivamente para seu histórico elétrico. Além de boas histórias, o livro de Hand traz elementos para que conciliemos a realidade com nossas errôneas intuições estatísticas. Não é tarefa fácil.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.