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    Luciana Coelho

    'Louie' evoca Woody Allen e surrealismo

    DE SÃO PAULO

    20/07/2014 02h00

    DAS SEIS comédias indicadas ao prêmio Emmy, "Louie" (escrita, dirigida, produzida, editada e estrelada pelo comediante Louis C.K.) é a que tem menos chances de levar o prêmio principal, mesmo concorrendo a ele pela segunda vez.

    Não se deixe levar por premiações. O resultado desta ambiciosa quarta temporada, recém-encerrada nos EUA, chega perto do sublime.

    Durante o hiato de 20 meses entre o final do terceiro ano da série e o início do quarto, fica evidente que Louis C. K. mergulhou em um projeto ousado, decidindo flutuar por uma zona rarefeita entre surrealismo, drama, romance e comédia.

    Sabíamos que o ator encarava bem os dois últimos, com a boca suja e o coração sensível que são peculiares a ele. A novidade é que ele pode ser incrivelmente pungente nos dois primeiros, ainda que ao custo das piadas que o tornaram conhecido.

    Se não conseguiu agradar a crítica americana como um todo, ele certamente conseguiu chamar sua atenção e apresentar algo novo em um terreno que parece saturado.

    As referências a Woody Allen, algo difícil de transpor para 20 minutos de TV, ficaram mais evidentes.

    KC Bailey/Associated Press
    Louis C.K. como Louie, à esq., e Pamela Adlon como Pamela em cena de 'Louie'
    Louis C.K. como Louie, à esq., e Pamela Adlon como Pamela em cena de 'Louie'

    Em um melancólico flashback que o mostra pós-adolescente, discutindo a relação com a agora ex-mulher, é inevitável lembrar do autor de "Manhattan", seja pelas neuroses transbordando ou pelos óculos de aros grossos que o ator Conner O'Malley, seu "eu" jovem, usa.

    Por outro lado, C.K. se distancia um pouco mais do nonsense e das novaiorquices do amigo Jerry Seinfeld (que, aliás, faz uma participação divertidíssima no segundo episódio), outra de suas inspirações.

    A temporada inova ainda com um longo flashback da infância de Louie, quase destacável do resto da série, no qual o vemos ruivo e chapado aos 13 anos. Somos transportados às memórias do comediante ao ver sua filha Lilly (Hadley Delany) fumando maconha.

    Mas são os seis capítulos intitulados "O Elevador", sobre a desajeitada corte de Louie à húngara Amia (Eszter Balint), incapaz de falar inglês, que mais fazem a temporada valer a pena. Há risadas, porque gostamos de rir da desgraça alheia; nunca, porém, "Louie" deu tanta vontade de chorar.

    E os toques surrealistas -como um furacão constantemente no noticiário por submergir a ilha de Cuba ou matar 12 milhões de pessoas na Flórida até chegar a Nova York- divertem e surpreendem.

    O melhor é que, depois de toda essa viagem, ele volta, nos dois episódios finais, ao seu epicentro: a vida de comediante divorciado com duas filhas pré-adolescentes em Nova York e a insistência para que a amiga Pamela (Pamela Adlon) leve a relação dos dois a outro nível. Como se avisasse ao espectador que estamos, de novo, em casa.

    As participações especiais, já um costume, são caprichadas. Há Jeremy Renner, de "Guerra ao Terror", como um traficante de sua adolescência, e há a incrível Ellen Burstyn ("Réquiem para um Sonho") como a vizinha Evanka, tia de Amia.

    Só falta o canal FX trazer a série para o Brasil. Tudo de que "Louie" precisa é de um coração aberto.

    A quarta temporada de "Louie", exibida nos EUA pelo FX, está à venda em sites americanos

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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