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    Luciana Coelho

    Shonda Rhimes cresce em 'How to Get Away with Murder'

    05/10/2014 02h00

    Na última terça, dia 30, a produtora de TV Shonda Rhimes subiu ao palco na Universidade Harvard para receber uma medalha. A plateia urrou. Oprah Winfrey, a apresentadora de TV mais poderosa dos EUA, fez um "selfie" e tuitou #ShondaRules, ou "Shonda arrebenta".

    A medalha W.E.B. Du Bois premia anualmente figuras cuja contribuição para a cultura afro-americana no país se destaque. O feito da produtora, explicou o professor de ciências sociais que a apresentou, é trazer à TV personagens realistas.

    Rhimes, 44, é o cérebro criativo por trás de "Grey's Anatomy", "Scandal" e, desde o último dia 25, "How to Get Away with Murder" (algo como "como cometer um assassinato e sair incólume"). As três séries fecham o horário nobre da rede ABC, uma das três maiores dos EUA, nas prestigiadas noites de quinta.

    Nicole Rivelli - 30.set.2014/Associated Press
    Davis (com estátua) é uma advogada em 'How To Get Away With Murder'
    Davis (com estátua) é uma advogada em 'How To Get Away With Murder'

    Que suas heroínas televisivas mais recentes sejam mulheres e negras é um detalhe. Ou melhor, não é. Mas não é algo que transforme suas séries em libelos de ativistas, alimente debates antropológicos e muito menos ofereça ao público majoritariamente branco um olhar pitoresco sobre a cultura negra, o que seria um erro fatal.

    Seu objetivo é apenas que o público assista a boa ficção na qual parte dos protagonistas calham de ser negras, e tudo seja natural.

    "Gostaria que o fato de eu achar que a TV deva se parecer com o mundo real não fosse algo tão extraordinário", afirmou Rhimes ao receber o prêmio.

    Ela tem razão. Recentemente, uma crítica de TV do "New York Times" causou controvérsia ao rechear um texto sobre o trabalho da produtora de estereótipos e condescendência. Por mais que sua obra não gire em torno da questão racial, Rhimes não consegue deixar de ser vista sob esse prisma pela crítica.

    A história felizmente é diferente com o público, que a contempla com índices de audiência excepcionais.

    Foi assim com "How to Get Away With Murder", na qual a ótima Viola Davis (de "Histórias Cruzadas") faz uma professora de direito criminal enérgica, sexy e pouco ortodoxa em seus métodos. Foram 12,6 milhões de espectadores na estreia, o mesmo que a volta de "Scandal" e mais do que "Grey's" e "Modern Family", outro sucesso de público.

    Se o primeiro episódio deu uma mostra adequada da série, a produtora está se distanciando da fórmula novelesca dos trabalhos anteriores e se tornando mais provocadora em termos de roteiro, o que é bom.

    Davis também é uma atriz muito, muito superior a Kerry Washington (Olivia Pope) e Ellen Pompeo (Meredith Grey), o que ajuda a tornar sua Annalise Keating bem mais interessante. Fazia tempo que a TV não apresentava uma protagonista que domine as cenas com tanta veemência –não há a menor chance para os coadjuvantes, um grupo de quatro alunos que farão de tudo por uma boa nota e os assistentes-capangas da professora/advogada.

    A história é contada em tempos paralelos, antes e depois de um certo assassinato (só ao fim do piloto descobrimos quem morreu), e a edição é acelerada, ao gosto do público com síndrome do deficit de atenção, mas sem enjoar os mais tradicionalistas. Mistérios típicos dos roteiros de crimes garantem diversão.

    Rhimes não é um gênio da dramaturgia, mas é excelente em entreter. E, sem querer fazer nada, está fazendo muito. Arrebenta, Shonda.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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