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    Luciana Coelho

    'Broad City' reinventa 'série de mulherzinha'

    22/03/2015 02h00

    Imagine "girls" sem histeria nem diálogos existencialistas. Ou os roteiros de Tina Fey sem pretensão de genialidade. Ou "Sex and the City" sem consumismo nem caça ao príncipe encantado. Ou, apenas, imagine duas garotas chapadas em uma cidade incrível.

    Eis "Broad City", série que nasceu na web, foi levada para a TV pelo anárquico canal Comedy Central e cuja segunda temporada terminou nos EUA nesta semana consagrada como cult (no Brasil, ainda não há planos de exibir a comédia).

    "Broad City" é o filhote criativo de Ilana Glazer, 27, e Abbi Jacobson, 31, duas comediantes com formação de improvisação nos palcos nova-iorquinos e roteiros rápidos o suficiente para capturar a curta atenção do público na internet.

    Divulgação
    Ilana Glazer, 27, e Abbi Jacobson, 31, que reinventaram as séries de mulherzinha em 'Broad City'
    Ilana Glazer, 27, e Abbi Jacobson, 31, que reinventaram as séries de mulherzinha em 'Broad City'

    Convertidas em produtoras, protagonistas e roteiristas também da série televisiva, receberam o apoio valioso de Amy Poehler (de "Parks and Recreation", que, como Fey, tem construído uma carreira prolífica também lastreando novos talentos).

    A série acompanha o cotidiano e a über intimidade de duas amigas de 20 e poucos anos, também chamadas Ilana e Abbi, em Nova York. Ambas são subempregadas (Abbi é faxineira em uma academia, Ilana trabalha com televendas), têm uma vida sexual errática e nenhuma pretensão maior do que se divertir, se possível entorpecidas.

    A paixão recôndita de Abbi pelo vizinho Jeremy (Stephen Schneider) e da hiperativa Ilana pela melhor amiga, ao mesmo tempo em que mantém em banho-maria o dentista Lincoln (Hannibal Buress), rendem ótimos momentos. Mas são as piadas nonsense, mais próximas de humoristas colegiais como Seth Rogen que de qualquer colega mulher, que fazem o espectador rir alto.

    É um oásis na dramaturgia atual, sobretudo a dedicada a retratar uma fatia X da população, na qual invariavelmente o espectador é levado a se compadecer ou invejar a situação dos protagonistas.

    Nesse sentido, a série guarda parentesco direto com "Seinfeld" (1989-98), com a qual compartilha ainda as observações prosaicas e a mesquinharia dos personagens.

    Talvez por isso, e apesar da reiterada lembrança da crítica americana, é difícil dizer que Glazer e Jacobson façam algo que possa ser lido como humor feminino ou feminista.

    É inegável, entretanto, que colocar as duas moças dizendo ou fazendo coisas que a TV se habituou a mostrar apenas homens realizando tenha efeito semelhante ao que as séries de Shonda Rhimes têm sobre o racismo (a produtora faz de suas protagonistas negras, sem que isso seja um capítulo especial na história; as comediantes em questão fazem parecer natural uma mulher fazer QUALQUER coisa, boa ou ruim).

    De quebra, a dupla arregimentou um séquito fantástico em participações especiais, de Poehler e Rogen a Fred Armisen ("Portlandia") e Matt Jones ("Breaking Bad"), e outros. Torça para chegar ao Brasil.

    "Broad City" está à venda no iTunes americano

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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