É o sonho de muitos nerds-de-série: você admira um(a) roteirista/atriz/ator de outro país, descobre que a pessoa acompanha suas tiradas no Twitter, e, depois de conversarem e trocarem ideias, um roteiro conjunto surge. E não é qualquer roteiro, mas um elogiado por seu grau de sarcasmo a ponto de aparecer em listas de críticos dos dois lados do oceano.
A história —real— deu origem à comédia "Catastrophe," protagonizada pela comediante britânica Sharon Horgan, 46, e pelo humorista americano Rob Delaney, 39.
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| Os atores Sharon Horgan (à esq.), Rob Delaney e Carrie Fisher na série britânica "Catastrophe" |
Rob gostava de Sharon por causa de sua sitcom "Pulling" (no ar de 2006 a 2009 pela BBC), Sharon acompanhava Rob, conhecido nos EUA pelos shows de stand-up, na rede social onde ele soma 1,3 milhão de seguidores), e a luz se fez.
A emissora britânica Channel 4 comprou a ideia, e agora a série soma duas temporadas semestrais de seis episódios de 25 minutos no ar, distribuída também pela Amazon. Outras duas estão em produção.
Do Brasil, só é possível assistir mascarando o IP (a identidade do computador), e torcer para que algum canal pesque a novidade, listada pela revista americana "Time" e pelo jornal britânico "Guardian" entre as melhores do ano e merecedora do Emmy (o prêmio a ignorou ).
A graça de "Catastrophe" não está na história, um clássico da comédia moderna: casal que nunca se viu tem uma noite (no caso, uma semana) de sexo, e, ops, engravida. Eles resolvem tentar ficar juntos e ter a criança —o detalhe é que ele vive em Boston, e ela, em Londres.
"Catastrophe" é boa porque tem um grau incomum de realismo diante de outras produções do gênero e porque a química e os diálogos entre Horgan e Delaney, cujos personagens na série também se chamam
Sharon e Rob, funciona de forma impressionante. O texto flui natural e pouco adocicado, como é de se esperar que ocorra entre um casal que mal se conhece, sente atração mútua mas se vê diante de uma situação pouco confortável.
Neste caso, pesa a faixa etária dos personagens, em torno dos 40, e o fato de eles se comportarem como tais.
Parece pouco? Para quem está enjoado das comédias americanas tratarem pessoas de 40 anos como infelizes de vida monótona ou, ao contrário, adultos que nunca superaram a adolescência à la Judd Apatow, é um sopro de renovação.
Sharon e Rob, os da série, ela uma professora irlandesa radicada em Londres e ele um publicitário enviado à capital britânica a trabalho, têm problemas reais, de adultos, e eles vão muito além do bebê por vir.
Apesar de Delaney ser americano (embora os bostonianos como ele sejam mais cáusticos que seus demais compatriotas), prevaleceu o estilo de humor inglês, impiedoso.
Em mais um agrado ao espectador que tem perto de 40, a mãe dele é vivida por Carrie Fisher, a eterna princesa Leia e uma das melhores mentes cômicas de Hollywood. Sim, ela envelheceu. Que bom.
"Catastrophe" está à venda na Amazon
É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.