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    Luciana Coelho

    Reencontrar 'Will & Grace' e Larry David é um bálsamo

    22/10/2017 02h00

    Divulgação
    Larry David e Cheryl Hines, em cena da série cômica 'Segura a Onda
    Larry David e Cheryl Hines, em cena da série cômica 'Segura a Onda'

    Retomadas de séries de sucesso têm ficado comuns diante de uma plateia voraz e com tantas plataformas à disposição, mas raramente são bem-sucedidas: "Full House" e a antes genial "Arrested Development" estão aí para provar que reviver um programa de sucesso pode resultar em uma série-zumbi cuja semelhança com o original só provoca calafrios.

    Duas empreitadas que reestrearam na virada do mês para nonas temporadas extemporâneas, porém, sobressaem como exceções.

    "Curb Your Enthusiasm" (HBO, aqui "Segura a Onda") e "Will & Grace" (NBC, ainda sem canal no Brasil, onde era exibida pelo Sony) indicam que não apenas a retomada, quando bem produzida, pode afagar os saudosistas como pode também adquirir nova relevância.

    A comédia de Larry David, o cocriador de "Seinfeld", na qual é ele mesmo o ator principal oferece um humor politicamente incorreto que provoca e faz refletir sem ofender.

    Em tempos em que o debate sobre os limites da expressão parece retroceder, a ousadia de David é revigorante e —diferentemente de colegas seus que proclamam clichês anacrônicos e de mau gosto— fazem rir.

    A retomada da série após seis anos, com o comediante lidando com o pós-divórcio de Cheryl (Cheryl Hines), que agora sai com seu arquirrival Ted Danson (o próprio), serve apenas para mostrar como a mesquinharia e os preconceitos de Larry (o personagem) se tornaram fora de tempo e lugar.

    Apesar dessa lente de aumento sobre a pequeneza do protagonista, misantropo como sempre foi, a graça extraída das coisas bobas do dia a dia (um pote de picles?) segue viva e muito bem.

    Essas torpezas e piadas cotidianas são um bálsamo para esquecer que problemas de verdade muito maiores pairam por aí, algo reconfortante ao confirmar que nem tudo muda para pior.

    No caso de "Will & Grace", que a cada episódio vem lustrando seu novo verniz político, o caso é ainda mais admirável.

    Ao abraçar um discurso declarado de oposição a Donald Trump, mas sem depreciar aqueles que apoiam o presidente americano, a sitcom finca novamente a bandeira do arco-íris em horário nobre da TV aberta americana, mostrando para milhões o absurdo de retrocessos propostos pelos políticos (há espaço até para a "cura gay").

    Com 11 anos de hiato, Will (Erik McCormack), Grace (Debra Messing), Karen (Megan Mullally) e Jack (Sean Hayes) envelheceram assim como seus fãs, e estão bem com isso -há um episódio engraçadíssimo sobre o abismo geracional na comunidade LGBTQ.

    Acompanhar seu humor de piadas rápidas e bem escritas calcado na interação entre o quarteto de amigos e marcado pelas risadas da claque, hoje em desuso, é redescobrir um prazer antigo repentinamente renovado, do qual sentíamos mais falta do que supúnhamos, em um momento em que o futuro é assustador.

    "Segura a Onda" é exibida pela HBO às sextas, às 22h; "Will & Grace" vai ao ar nos EUA às quintas e já foi confirmada para mais um ano.

    luciana coelho

    É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.

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