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    Luiz Caversan

    Facebook revela psicopatas do cotidiano

    02/05/2015 02h00

    A psiquiatra carioca Katia Mecler tem uma extensa carreira voltada à pesquisa dos chamados transtornos de personalidade, ou seja, aqueles problemas psíquicos que tiram o cidadão do eixo da normalidade e o colocam em oposição a normas de conduta e, em casos extremos, contra a lei, envolvendo-se em crimes.

    Ao longo de 20 anos atuando como psiquiatra forense paralelamente ao dia a dia do consultório e aos estudos que resultaram no seu mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela manteve contato com os dois lados da questão: o lado do portador de transtornos que o levam a se tornar um agressor, uma pessoa violenta e sem limites e o lado das vítimas desse tipo de indivíduo, que ela classifica de psicopata do cotidiano.

    E é esse mesmo termo, "Psicopatas do Cotidiano", resgatado da formulação do médico alemão Kurt Schneider, de 1929, que dará nome ao livro que a doutora Katia lança em junho pela editora Casa da Palavra e no qual procura, como explica, expandir o conceito de transtorno de personalidade para além dos casos mais graves, trazendo-o para mais perto do cotidiano de pessoas ditas normais.

    "Tenho uma preocupação muito grande de não estigmatizar, de não criar rótulos", diz ela, que com o objetivo de favorecer o entendimento das coisas vai detalhar em seu livro transtornos que se assemelham, dos mais graves, como os paranoicos, aos mais simples, digamos assim, como os borderlines, narcisistas e antissociais, passando pelos obsessivos compulsivos, dependentes (que dependem de alguém para continuar vivendo) ou os evitativos (que justamente não conseguem manter contato com ninguém para também continuar vivendo...).

    Uma interessante constatação surgida no trabalho de Katia refere-se às redes sociais, particularmente ao Facebook, objeto de análise da especialista. "Como já disse o Mario Vargas Llosa, vivemos na sociedade do espetáculo, em que atitudes públicas e a superexposição são hipervalorizadas. Neste sentido, o Facebook é um grande instrumento facilitador para que os comportamentos psicóticos se exponham mais, sobretudo aquelas pessoas que precisam de atenção permanente, as excessivamente rígidas, as inflexíveis, as repetitivas, que às vezes sem saber acabam causando sofrimento a si mesmo e aos outros." Assim como as dominadoras, agressivas, as desconfiadas, as permanentemente pessimistas, e por aí vai.

    Como disse uma amiga, que o Facebook é uma grande vitrine para a loucura do mundo contemporâneo, a gente já sabia. Agora, saberemos nome e sobrenome dessa maluquice toda...

    Brincadeiras à parte, claro que o intuito da doutora Katia Mecler não é fornecer material para especulações a respeito de como anda a saúde mental na sua timeline: "As pessoas precisam, isto sim, conhecer melhor seus próprios problemas ou os transtornos de gente do seu relacionamento. E o conhecimento é o melhor caminho para que se possa conviver melhor."

    luiz caversan

    Escreveu até abril de 2016

    É jornalista e consultor na área de comunicação corporativa.

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