Kristian Juul Pedersen/ AFP | ||
O compositor estoniano Arvo Pärt durante concerto em Copenhague, na Dinamarca |
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Colunistas
Tuesday, 07-Jan-2025 16:44:19 -03Manuel da Costa Pinto
Obra de Arvo Pärt deixa ouvinte extático diante de sua beleza estática
28/05/2017 02h00
Nascido em 1935, grande renovador da música sacra contemporânea, o estoniano Arvo Pärt concluiu em 1997 seu "Kanon Pokajanen", oratório em comemoração aos 750 anos da catedral de Colônia, na Alemanha. O título dessa grande obra coral "a cappella" (sem instrumentos, apenas vozes) significa "Cânon do Arrependimento", tendo por base idiomática o eslavo litúrgico e utilizando os hinos compostos entre os séculos 7⁰ e 8⁰ por Santo André de Creta, para os ritos da Quaresma, na tradição da cristã ortodoxa. Pärt realiza aqui uma suma teológica de suas diferentes técnicas corais, em especial o "tintinnabuli" —procedimento cujo nome deriva do termo latino para os pequenos sinos de igrejas e no qual a melodia flui sobre vozes cujos arpejos parecem soar indefinidamente, como badaladas. O resultado é uma obra moderna em suas repetições hipnóticas e em suas dissonâncias e atritos, mas ao mesmo tempo com uma serenidade meditativa e religiosa, deixando-nos extáticos diante da beleza de sua estrutura estática, derivada da simplicidade cósmica do canto gregoriano.
Arvo Pärt: Kanon Pokajanen. Artistas: Cappella Amsterdam; Daniel Reuss, regente. Gravadora: Harmonia Mundi (2016, R$ 96,80, importado)
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FILME
Calvário burocrático
Com uma filmografia engajada e humanista, o diretor britânico Ken Loach investe, em "Eu, Daniel Blake", contra uma forma de exclusão velada, porém quase tão torturante quanto a dos Estados totalitários: a burocracia capitalista associada ao "apartheid" tecnológico. Seu personagem é um velho carpinteiro que, após sofrer um enfarte, enfrenta um calvário de entrevistas e esperas telefônicas para receber auxílio governamental do sistema de saúde que o proíbe de trabalhar e o obriga a preencher formulários "on line" inacessíveis a sua disfuncionalidade tecnológica. Enquanto encontra um fiapo de solidariedade entre outros desempregados (como os vizinhos envolvidos em comércio ilegal ou a mãe solteira que, como ele, come o pão que o diabo amassou), vai agonizando diante de burocratas que, hipocritamente compreensivos, mostram os dentes da impaciência para os novos párias do mundo globalizado.
Eu, Daniel Blake. Direção: Ken Loach. Distribuidora: Imovision (20160. Na Apple TV
Divulgação Cena do filme "Eu, Daniel Blake" *
LIVRO
Gozo e fel
Da Poesia Hilda Hilst Comprar Essa reunião da obra poética de Hilda Hilst (1930-2004) mostra as justaposições formais e estilísticas de uma escritora que também produziu ficção, teatro e crônica, sempre oscilando entre gozo e fel, devoção e escárnio. Além de textos dos amigos Lygia Fagundes Telles e Caio Fernando Abreu, de um ensaio crítico de Victor Heringer e uma entrevista concedida a Berta Waldman e Vilma Arêas, o volume traz livros como "Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão" (1974) e "Da Morte. Odes Mínimas" (1980). São obras em que observamos a convivência de formas clássicas —odes, trovas, cantigas de amor, cantos bíblicos— com o fluxo verbal de versos livres, cuja tônica é a celebração erótica e a indagação metafísico-religiosa. A edição inclui poemas inéditos, encontrados entre os manuscritos que Hilda Hilst deixou na Casa do Sol, moradia próxima a Campinas em que passou os últimos anos de vida, entre cães abandonados, amigos, cigarros e garrafas de vinho do porto.
Da Poesia. Autor: Hilda Hilst. Editora: Companhia das Letras (2017, 584 págs., R$ 64,90)
Divulgação A escritora Hilda Hilst É jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
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