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Incêndio de grandes proporções na Groenlândia, observado por satélite da Agência Espacial Europeia |
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Thursday, 25-Apr-2024 14:28:16 -03Marcelo Leite
Vivi o bastante para ver um megaincêndio na Groenlândia
14/08/2017 02h00
Eis aqui uma notícia que não deveria existir, nem mesmo se fosse inventada. Mas é verdade: está comendo solto na Groenlândia o maior incêndio natural já visto na gigantesca ilha do Ártico.
Ora, a Groenlândia não está coberta de gelo? Sim, em grande parte, cerca de 80% de seus 2,17 milhões de quilômetros quadrados. Se essa calota gelada derretesse toda, o nível do mar subiria sete metros no planeta inteiro.
Um quinto do território, no entanto, fica livre de gelo e neve. Ali viceja uma vegetação composta principalmente de capim e arbustos, com poucas árvores, como bétulas.
O fogo e a fumaça estão visíveis para satélites desde 31 de julho numa área do sudoeste, perto da localidade de Sisimiut. A linha de queimada não está avançando, o que faz pensar que o combustível pode não ser a vegetação da superfície, mas sim matéria orgânica no solo.
A principal hipótese é que o incêndio esteja queimando turfeiras, vegetação parcialmente decomposta que se acumula no solo, sendo formada em geral por musgo. Em certas condições geológicas e ao longo de muito tempo, pode transformar-se em carvão.
O fogo se encontra a apenas 70 km de distância da linha de geleiras. Não é impensável que contribua para derretê-las um pouco mais.
Há também quem acredite que o incêndio só esteja ocorrendo agora, nessas proporções, porque a turfa se encontra ressecada por força do aquecimento global. Mas isso ainda precisa ser corroborado com pesquisas e dados.
De todo modo, o Ártico passa por um de seus verões mais quentes. A calota de gelo que cobre o oceano da região encolhe num ritmo só igualado em 2012, quando o recorde de menor extensão foi batido.
Até a mítica passagem Noroeste, em busca da qual mais de uma expedição soçobrou, está ficando livre de icebergs e banquisas. Repórteres do jornal americano "Washington Post" estão a bordo quebra-gelos canadense Amundsen para contar como ela é.
Algo para fazer revirarem-se os restos mortais do britânico John Franklin (1786-1847), onde quer que estejam sepultados. Ele partiu em 1845 da Inglaterra com os navios Erebus e Terror, e nunca mais foi visto.
Já nós, no século 21 e na nova era geológica do Antropoceno, viveremos talvez o bastante para ver o oceano Ártico sem gelo nalgum verão próximo. Mas não para testemunhar o desaparecimento da calota sobre a Groenlândia, que consumirá centenas ou milhares de anos, tamanho é seu volume.
Eis aí um problema hipermegacabeludo, que legaremos para nossos tataranetos e seus descendentes. Eles que se virem, certo?
É repórter especial da Folha,
autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ciência - Use com Cuidado' (Unicamp).
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