O virologista Umar Khan não viveu para receber a homenagem da revista "Time".
Khan tratou mais de cem pacientes com ebola em Serra Leoa antes de ele mesmo sucumbir à doença no hospital dos Médicos sem Fronteiras em Kailahun, Serra Leoa.
Era um especialista em febre de Lassa, outra doença hemorrágica africana, e havia abraçado a tarefa de tratar de pacientes com ebola no epicentro da epidemia, no hospital público de Kenema.
Umaru Fofana/Reuters | ||
O médico leonês Umar Khan, que morreu devido ao ebola após tratar doentes em seu país |
Nesse hospital morreram mais de 50 médicos e enfermeiras contaminados. Há fotos de Khan por toda a parte. Ele é um herói nacional.
Mas Ella Watson-Stryker, 34, agente de saúde dos Médicos sem Fronteiras, viveu o suficiente para estampar uma das capas da revista "Time" em homenagem aos combatentes do ebola.
Time Magazine/Associated Press |
A agente de saúde Ella Watson-Stryker na "Time" |
Conheci Ella dentro de uma picape dos Médicos sem Fronteiras, em Kailahun, em agosto.
Eu me dirigia para o hospital de tratamento de ebola dos MSF e Ella estava indo para os vilarejos, fazer conscientização da população.
Parece pouco perigoso, mas o trabalho de Ella estava entre os mais arriscados.
Consistia em entrar nos vilarejos e conversar com as pessoas, para convencê-las a levar doentes para o hospital e descobrir se havia infectados escondidos pelas famílias. Ela nunca sabia quando ia deparar com um doente.
Ella já estava em Serra Leoa havia alguns dias e, apesar dos riscos, parecia bem tranquila.
Ela e outra agente fizeram até a piada: nosso cumprimento agora é "Te vejo na Libéria". E, de fato, ela saiu de Serra Leoa e foi para a Libéria, para reforçar o time dos MSF que estava combatendo a epidemia.
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.