Neymar imitou Zagallo e disse que vão ter de engoli-lo. É provável que sua angústia tenha pouco a ver com as críticas sobre os dois primeiros jogos. Mais a ver com a pergunta sobre seu comprometimento com a seleção, antes de a Olimpíada começar. Compromisso nunca lhe faltou e a pergunta certa pré-ouro era por que seus números diminuíram dos 23 para os 24 anos.
No torneio olímpico, Neymar foi um monstro. Porque foi mais do que Neymar. Não foi apenas o atacante, nem o finalizador brilhante, que chuta com o pé direito ou esquerdo indistintamente. Foi artista, mas também foi maestro.
Três vezes na final olímpica contra a Alemanha, Neymar colocou companheiros na cara do gol. Gabriel, Luan e Felipe Anderson deveriam ter feito 2 x 1 antes dos pênaltis.
No passado, a camisa 10 representava o ponta-de-lança, como Pelé e Zico, ou o meia-armador, como Ademir da Guia e Gérson, número 8 no Botafogo e na seleção, 10 no São Paulo bicampeão paulista em 1970 e 1971.
Neymar foi as duas coisas. Aproximou-se do ataque para fazer gols e voltou ao meio de campo para construir, orientar, organizar. Foi ponta-de-lança e meia-armador.
Os números frios dirão que Renato Augusto jogou mais na final contra a Alemanha. Deu mais passes certos e fez mais desarmes. A estatística explica muita coisa. Não tudo.
Neymar foi o cara e chutou o pênalti do título com o pé direito machucado.
É melhor que não seja o capitão. É o maior gênio, mas não a estrela solitária. A Olimpíada serviu para expor isso. Mas Gabriel, Gabriel Jesus, Luan, Renato Augusto demonstraram que a geração não tem um craque só. Talento existe. O ponto é como transformá-los em time.
Quem achou que o Brasil jogou mal contra a Alemanha esqueceu-se de que havia um adversário forte do outro lado. Quem diz que o Brasil não é mais tão forte também reclama por não existir um atropelamento sobre a Alemanha na decisão. É uma contradição.
O Brasil vai atropelar quando juntar a habilidade que existe com o trabalho que não há. Micale trabalhou por 32 dias. Hrubesch não dirigiu um catado, porque conheceu todos os seus jogadores por três anos. Max Meyer, Brandt, Ginter e Horn estavam no torneio que classificou a Alemanha para o Rio, a Euro sub-21. Todos os outros participaram da preparação para o torneio classificatório.
O Brasil só venceu nos pênaltis o bom time da Alemanha porque contrapôs a habilidade à organização. Mas pode ter os dois, se trabalhar dois anos até a Copa do Mundo da Rússia.
E sempre terá Neymar.
O craque comprometeu-se. Muito! Também entendeu que o caminho mais curto para ser eleito o melhor do mundo não é fazer acrobacias, mas ser campeão mundial pela seleção em 2018. Se conseguir isso, como protagonista, como foi na Olimpíada, será majestade para sempre.
No Rio, Neymar usou o Maracanã como seu palco. O ambiente do Maraca desmente quem diz que há indiferença em relação à seleção. Fazer jornalismo é expor a verdade e isso exige sensibilidade para entender o que está diante dos olhos. O Maracanã expôs outra vez como o país não é indiferente à seleção brasileira. Neymar entendeu isso mais do que ninguém.
VACILO
Dos dezoito pontos que disputou no Campeonato Brasileiro sem Gabriel Jesus, durante a Olimpíada, o Palmeiras só conquistou oito. Dos últimos quatro jogos em casa, só venceu um. O conforto do líder termina por causa dos vacilos dentro de casa.
QUASE
Ricardo Gomes reestreou contra o mesmo técnico e mesmo rival que causaram sua saída em 2010: o Inter de Celso Roth. No retorno, teve menos posse de bola e esteve perto de vencer. Mas seu time comete muitos erros e mantém a herança de Bauza de não ganhar fora.
É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.