Vitalik Buterin tem 21 anos e nasceu na Rússia. Aos seis anos, mudou-se para o Canadá. Em 2012 foi aceito na universidade da pequena cidade de Waterloo. Os estudos não duraram muito. Vitalik trocou a faculdade por uma viagem ao redor do mundo. Nesse período, estudou criptografia, além de sociologia, epistemologia, política e economia.
Em 2013, Vitalik teve uma ideia que pode mudar o mundo e, em 2015, ela virou realidade. Foi lançada com o nome de Ethereum (ethereum.org).
Vou tentar descrever de modo simples do que se trata, tarefa nada fácil. Imagine se a própria internet pudesse ser transformada em um gigantesco computador. Em vez de programar um dispositivo específico (como um celular ou um laptop), seria possível programar a própria rede. Ela passaria a executar as instruções automaticamente.
Esse é o princípio por trás do Ethereum. Se ele decolar, surgirá no planeta a primeira rede descentralizada capaz de tomar decisões autônomas, rodando "aplicações" sem que haja uma pessoa, uma empresa ou até mesmo um computador específico por trás delas.
Pense, por exemplo, na controvérsia recente envolvendo aplicativos para chamar transporte urbano. Hoje, essas funcionalidades são operadas por companhias que lançam e gerenciam seus aplicativos. Com o Ethereum, essa atividade pode se tornar uma funcionalidade da própria rede. Apps não precisarão de uma corporação por trás deles. Bastará programar a própria internet para realizar essa tarefa: identificar veículos que estão nas proximidades e conectá-los aos passageiros que estão precisando de transporte naquele momento, tudo automaticamente.
Uma vez que essa funcionalidade é implementada no Ethereum, ela se torna imparável. Sempre que alguém pedir um carro por meio dela, a rede executará essa função. Não haverá governo, protestos, juízes, exércitos, cartórios ou oficiais de Justiça que serão capazes de fazer parar aquela atividade. Para "desligá-la" será preciso desligar a própria internet como um todo (se sobrar um pedaço que seja, a funcionalidade continua em operação).
Com isso, vale se preparar para a chegada de uma nova geração de serviços. Eles não precisão de nenhuma empresa (nem de nós, humanos) para serem operados. Serão embarcados na própria rede. Poderão gerar mecanismos incríveis para melhorar a vida das pessoas e reduzir custos. E também gerar aplicações selvagens, capazes de produzir danos em quem cruzar seu caminho, tudo automaticamente.
Não espanta que o bilionário Peter Thiel –famoso por sua visão política ultraliberal– tenha concedido uma de suas bolsas a Vitalik. Afinal, com sua criação, a própria ideia de democracia e de Estado pode ser profundamente transformada. Se o Ethereum irá concretizar tudo isso, só o tempo pode dizer. O fato é que esse conceito já existe e está entre nós. E isso em si já é imparável.
É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.