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    Ruy Castro

    Abraçado a este mundo

    31/05/2017 02h00

    RIO DE JANEIRO - Um apartamento em Ipanema, deixado vago pela morte, há cinco anos, de seu ilustre proprietário, foi esvaziado pelos herdeiros e entrou em obras para ser alugado. Dali a pouco, os operários que foram trabalhar nele começaram a perceber coisas inexplicáveis. Um martelo colocado em um lugar reaparecia em outro. Os vasos davam descarga por conta própria. As lâmpadas piscavam seguindo um padrão. Os rapazes, apavorados, foram falar com o porteiro —nenhum deles queria ficar lá sozinho.

    O porteiro subiu para conferir. Não viu nada de anormal. Mas ouviu —ou pensa ter ouvido— uma tosse, um suspiro, um pigarro, todos lembrando os ruídos produzidos pelo falecido. Ele próprio sentiu sopros gelados vindos das paredes. Mas tinha de tranquilizar o pessoal. Garantiu que não havia nada demais, que eles estavam imaginando. Os operários, a custo, continuaram a reforma —às vezes, um se demitia, de cabelo em pé. O próprio porteiro deixou de ir ao apartamento vazio à noite.

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    A obra ficou pronta e o imóvel foi alugado. O inquilino, um estrangeiro racional e pragmático, sabia da importância do antigo titular. Foi morar lá, sem desconfiar de nada, e, por muito tempo, não teve do que se queixar. Mas, há pouco, as estranhezas recomeçaram. Torneiras abriam. Livros mudavam de lugar. Um quadro amanheceu de cabeça para baixo. E a trilha sonora retomou os pigarros, tosses e suspiros. O inquilino ficou aterrorizado. Já deve ter se mudado.

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