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    Tostão

    A soberba não pode mudar de lado

    DE SÃO PAULO

    01/01/2014 03h00

    Se o Brasil ganhar a Copa, espero que a maioria tenha a consciência de que o time brasileiro, quase só com jogadores que atuam fora, é exceção e que o nosso futebol está ruim, dentro e fora de campo, desde a formação dos jogadores nas categorias de base.

    O Brasil tem a obrigação de formar uma ótima seleção, pois é imenso, tem enorme tradição e milhares de crianças correndo atrás de uma bola, em vez de estudarem em boas escolas públicas, em tempo integral e sob orientação de bons professores.

    A entrevista dada por Felipão no Futcom (encontro de fim de ano dos treinadores) foi chamada de "Show do Felipão", mais por suas frases e gestos engraçados do que por suas opiniões técnicas. Felipão foi aplaudido quando elogiou a devoção de Daniel Alves à seleção e ao país, por não ter cumprimentado seus companheiros de Barcelona, na final da Copa das Confederações.

    Parece até que um atleta, para jogar bem, com garra e comprometimento com a seleção, precisa ser mal-educado e tratar os adversários como inimigos. Além disso, Daniel Alves pode criar inimizades no Barcelona e prejudicar sua carreira.

    Felipão merece ser elogiado por seu trabalho, por seus conhecimentos e, principalmente, por saber organizar a equipe para jogar uma Copa em casa, apesar de usar muito a tática de faltas para parar os lances. As grandes equipes não precisam fazer isso para desarmar, vencer e brilhar.

    Estou preocupado com o oba-oba. Parece até que a conquista da Copa das Confederações, um torneio de preparação para o Mundial e sem grande nível técnico, seja motivo para tanta euforia, para Felipão ser tão bajulado, para todos os jogadores passarem a ser craques e terem o direito à titularidade na Copa.

    Com exceção de Neymar e Thiago Silva, os dois craques da seleção, os outros titulares não têm brilhado.

    Júlio César é reserva de um time da segunda divisão da Inglaterra. Daniel Alves e Marcelo não têm jogado tão bem quanto em outras temporadas. David Luiz, com frequência, fica na reserva no Chelsea. Luis Gustavo, dispensado do Bayern, atua em um pequeno time alemão. Paulinho continua discreto no Tottenham. Hulk está escondido na Rússia. Oscar tem atuado bem, mas o protagonista no Chelsea é o jovem meia belga Hazard. Fred não joga.

    O Brasil é um dos favoritos. Não é o único. Diferentemente do que diz o lugar-comum, é preciso, além de respeitar, temer os grandes adversários. A inquietude e a ansiedade são fundamentais para os atletas se superarem, como ocorreu na Copa das Confederações. A Espanha, ao contrário, achou que iria colocar o Brasil na roda e perdeu. A soberba não pode trocar de lado.

    É preciso conciliar os dois sentimentos, a confiança, sem atingir a prepotência, o já ganhou, com o receio de perder, sem entrar em pânico.

    tostão

    Médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa de 1970. Afastou-se dos campos devido a um problema de descolamento da retina. Escreve às quartas-feiras
    e aos domingos.

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