São menos de 30 lugares, um longo balcão e cinco mesas, ambiente retrô e bem rústico, música boa (mas alta), e duas jovens chefs mandando pratos criativos apenas três noites por semana.
Assim é o pequeno Ema, nova casa da chef Renata Vanzetto e sua prima Aline Frey, ambas do Marakuthai.
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
Costela com creme de mandioquinha e romã do Ema |
Mas aqui não há nada do Marakuthai, aberto por Renata e sua mãe em 2007 em Ilhabela (onde moram no litoral paulista), inspirado em sabores orientais.
O Ema é mais brasileiro, lastreado na memória afetiva de Renata (não por acaso, principalmente de pratos do mar) e, ao mesmo tempo, tem uma pegada contemporânea, levemente contaminada por um breve estágio das duas chefs no Noma, em Copenhague.
O clima informal e o frescor que paira no ar é emulado pelo perfil das sócias. Renata não é novata –trabalha no ramo desde os 13 anos, no restaurante da mãe– mas é jovem nos seus 25 anos. Aline tem 32, dez dos quais passados trabalhando em restaurantes nos EUA e na Europa.
Essa atmosfera que traz graça ao Ema corresponde também a certa insegurança. E, como pude perceber nitidamente, a casa ainda é facilmente abalada em sua regularidade por problemas (obras, falta de pessoal),
que num restaurante maduro são parte da rotina.
Mas mesmo com experiências diferentes em ocasiões distintas, sobram motivos para apostar no novo restaurante. Seus pratos oscilam, mas trazem certa verdade (e zero arrogância) em sua busca de combinar sinceridade e alguma técnica (sem arroubos muito modernos).
O casquinho de siri com crosta de arroz surpreende alegremente o paladar, o ceviche de pinha brinca festivamente com a acidez do caldo e a doçura carnuda da fruta, a folha de uva crocante mostra um lado novo do ingrediente amalgamado por queijo brie, pera, cebola e avelã, o atum quase cru tem um delicado molho cremoso de limão e mel, com leguminhos e pistache.
E mesmo o porco que deveria ter o atrevimento de ser mais suculento traz bons sabores com seu purê de caramelo, flor de sal e hortaliças verdes.
Aí tais alegrias compensam coisas que poderiam ser boas evocações da memória caiçara, mas falham, como as iscas de peixe (muito sequinhas na farinha de milho, com insípida maionese de agrião). Ou o fracasso do ovo cozido pra lá do ponto (com creme de cogumelos e croissant). Ou um filezinho de peixe sem graça com molho sem graça de tomates.
As jovens se colocaram numa sinuca: tornar regular um restaurante que só trabalha três noites por semana, e para piorar, muda sempre o cardápio. Vão precisar de força para chegar à maturidade, mas mostram energia para isso.
EMA (Bom)
ONDE rua da Consolação, 2.902, Jardins (São Paulo); tel. (11) 3081-8358
HORÁRIO de ter. a qui., das 20h à 0h
AMBIENTE charmoso, rústico e retrô, com longo balcão e poucas mesas num piso superior
SERVIÇO um pouco atabalhoado, mas atencioso
VINHOS quatro brancos... Seis tintos... Muito aquém da comida
CARTÕES A, D, M e V
PREÇOS entradas, de R$ 24 a R$ 32; pratos, de R$ 35 a R$ 73; sobremesas, R$ 18