Policiais civis e militares entraram em confronto na tarde desta quinta-feira na rua Padre Lebret, na região do Morumbi (zona oeste de São Paulo), próximo ao Palácio dos Bandeirantes --sede do governo do Estado. Os policiais civis estão em greve há um mês --desde o dia 16 do mês passado-- e programaram uma passeata para a tarde de hoje para pressionar o governo a retomar as negociações.
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Leandro Moraes/Folha Imagem |
Policiais militares usam bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar policiais civis grevistas durante manifestação em SP |
Policiais militares tentam reprimir o protesto com gás e bombas de efeito moral. A equipe da cavalaria também está no local.
Sob uma garoa fina, policiais de todo o Estado iniciaram uma caminhada em direção ao Palácio dos Bandeirantes, no começo da tarde. A marcha era escoltada por policiais de dois grupos de elite da Polícia Civil --GOE (Grupo de Operações Especiais) e Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos)-- que tentaram impedir a subida dos grevistas à sede do governo, bloqueando as vias com as motos da polícia.
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem |
Policiais civis em greve e policiais militares entram em confronto nas proximidades da sede do governo do Estado de São Paulo |
Nas ruas próximas à sede do governo dezenas de equipes da Polícia Militar, principalmente da cavalaria e do choque, estavam de prontidão. Segundo informações do comando da PM, a ordem era para não deixar ninguém subir.
O delegado André Dahmer, diretor da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo), culpou o governo do Estado pelo confronto. "Nós não queremos guerra. O governo não quer diálogo. Ele [governo] quer guerra."
O presidente do Sindicato da Polícia Civil de Campinas e região, Aparecido de Carvalho, também acusou o governo estadual pelo confronto. "É uma irresponsabilidade sem tamanho um governador, que se diz democrático, sabendo que homens armados vêm reivindicar salários e dignidade, colocar a PM, que é uma co-irmã, armada, correndo todos os riscos. O saldo disso poderiam ser diversas mortes de policiais."
Protesto
Às 15h15, as lideranças anunciaram aos manifestantes que o governo havia concordado em receber uma comissão dos grevistas. Isso, porém, não acalmou os policiais, que continuaram a caminhada. Um grupo de representantes dos policiais civis tentou avançar rumo ao Palácio, mas foi impedido pelos PMs, que fizeram um cordão de isolamento.
Cerca de 2.000 policiais civis, segundo estimativas da liderança do movimento, participavam do protesto em direção ao Palácio. Com dois carros de som, um deles carregando um caixão com a foto do governador José Serra (PSDB) com a frase "aqui jaz o ex-futuro presidente". Desde o início da caminhada o clima era tenso, com muito policiais civis exaltados e armados.
A manifestação provocou reflexos no trânsito na região, de acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Inicialmente foi montado um bloqueio na praça Roberto Gomes Pedrosa, que causou lentidão na avenida Giovanni Gronchi por volta das 14h. O bloqueio já havia sido retirado por volta das 15h30, quando os policiais grevistas partiram do estádio em direção à sede do governo.
Sem acordo
Em evento no início da tarde no Memorial da América Latina, o governador José Serra (PSDB) voltou a reafirmar a posição do governo em relação ao movimento --com greve não há acordo.
"Gostaríamos de um acordo, mas com greve o acordo não é viável. Negociações em greve não são viáveis. O governo fez sua proposta clara, está disposta a mandar para a Assembléia Legislativa dentro das possibilidades existentes", afirmou Serra.
Salários
Os policiais civis reivindicam reajuste salarial. De acordo com a Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo), durante a reunião de quinta-feira passada (9), na Secretaria da Gestão Pública, o governo apresentou aos grevistas uma proposta de 6,2% de reajuste --os policiais reivindicam 15% de aumento somente neste ano.
Na ocasião, o governo afirmou, em nota, que as lideranças da greve "mais uma vez mantêm propostas que extrapolam a capacidade orçamentária do Estado".