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    Em Petrópolis (RJ), bombeiros resgatam corpos por onde passam

    VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
    JORGE ARAÚJO
    ENVIADOS ESPECIAIS A PETRÓPOLIS

    13/01/2011 08h03

    "Cuidado com isso aí, rapaz. São corpos!", grita o coronel Souza Vianna, comandante da operação de resgate em Itaipava, distrito de Petrópolis, a um voluntário que sobe no caminhão com 15 cadáveres.

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    "Daqui até Teresópolis são corpos por todos os lados. Só nesta casa foram 14. Em 31 anos de bombeiro nunca vi nada parecido. Bati meu recorde", afirma Vianna.

    Às 21h, a Folha acompanhou retirada de 27 cadáveres e uma perna no Vale do Cuiabá, indício de que o saldo de mortos não para de subir.

    Aquela região abriga luxuosas casas de veraneio, haras e pousadas sofisticadas, cujas diárias passam de R$ 1.000. Ali também vivem trabalhadores rurais que tiram o sustento da agricultura e da pequena pecuária.

    Um dos mortos, trazido na pá de uma escavadeira, era uma criança, enrolada num cobertor azul celeste.

    Editoria de Arte/Folhapress

    *O mapa é atualizado com as últimas informações disponíveis.

    As vítimas morreram afogadas ou soterradas.

    Sônia, uma moradora ribeirinha, não conseguiu abrir a porta de casa contra a forte correnteza que se formou na enchente.

    "Estava tudo escuro, não tinha luz. A força da água veio com tudo, ela morreu afogada", diz o frentista e vizinho, José Mauro.

    Em frente ao que restou das casas arruinadas, havia carro de rodas para o ar e de lataria amassada como latinhas de cerveja, geladeira no teto, postes e árvores arrancados, antenas parabólicas caídas e entulhos de lixo.

    O rio subiu dez metros acima do leito e cobriu os telhados. Não havia mobília que tivesse se salvado. Fogões, lavadoras, sofás, colchões, tudo estava amontoado do lado de fora.

    A lama no vale era tanta que os 60 bombeiros da operação só chegaram à região mais crítica dos deslizamentos à tarde. Nem as picapes de tração nas quatro rodas venciam o atoleiro. Só os tratores conseguiam recolher os corpos, que chegavam aos montes, junto com os sobreviventes resgatados.

    À noite, na escuridão ainda sem eletricidade, a família do cocheiro Michel Silvano saía em êxodo com crianças nos braços e uma trouxa de roupa, a única coisa que restou da enchente.

    Marino Azevedo/Governo do RJ
    Imagem aérea mostra deslizamento em morro de Nova Friburgo, na região serrana do Rio; veja mais imagens
    Imagem aérea mostra deslizamento em morro de Nova Friburgo, na região serrana do Rio; veja mais imagens

    CHUVAS

    No total, as fortes chuvas na região serrana do Rio, desde terça-feira, deixaram 271 mortos.

    De acordo com a prefeitura de Teresópolis, 130 pessoas morreram. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, são 107 mortos em Nova Friburgo --entre eles três bombeiros.

    Em 12 dias, já choveu em Nova Friburgo 84% a mais do que o volume esperado para todo o mês. Das 9 h de ontem às 9 h desta quarta-feira, foi registrado um índice pluviométrico de 182,8 mm --o índice esperado para janeiro inteiro era 199 mm. Desde o começo do ano, as chuvas acumuladas na cidade são de 366,8 mm. Cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado.

    A região do vale do Cuiabá foi a mais atingida na cidade, com a água subindo mais de cinco metros de altura. Muitas casas foram destruídas pela força das águas do rio Santo Antônio.

    Já em Teresópolis, o volume de chuva registrado nas mesmas 24 horas chegou a 124,6 mm. Com isso, as chuvas acumuladas no mês chegaram a 219 mm. O esperado para o período era de algo entre 140 e 200 mm.

    O Inmet não tem números sobre a chuva em Petrópolis. A previsão do instituto é que as chuvas fortes continuem nos próximos dias, na região serrana e em outras áreas do Estado do Rio.

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