"Cuidado com isso aí, rapaz. São corpos!", grita o coronel Souza Vianna, comandante da operação de resgate em Itaipava, distrito de Petrópolis, a um voluntário que sobe no caminhão com 15 cadáveres.
Saiba como ajudar os atingidos pelas chuvas no Rio e SP
Bebê de seis meses é resgatado com vida em Nova Friburgo (RJ)
Temporal destrói hotel e teleférico de Nova Friburgo (RJ)
Máquinas e homens tentam reabrir estradas da região serrana
Teresópolis decreta estado de calamidade pública
Área de Petrópolis só tem acesso por helicóptero
Excesso de lama em Teresópolis dificulta socorro às vítimas
Veja imagens dos estragos causados pelas chuvas
Leia a cobertura completa sobre as chuvas no país
"Daqui até Teresópolis são corpos por todos os lados. Só nesta casa foram 14. Em 31 anos de bombeiro nunca vi nada parecido. Bati meu recorde", afirma Vianna.
Às 21h, a Folha acompanhou retirada de 27 cadáveres e uma perna no Vale do Cuiabá, indício de que o saldo de mortos não para de subir.
Aquela região abriga luxuosas casas de veraneio, haras e pousadas sofisticadas, cujas diárias passam de R$ 1.000. Ali também vivem trabalhadores rurais que tiram o sustento da agricultura e da pequena pecuária.
Um dos mortos, trazido na pá de uma escavadeira, era uma criança, enrolada num cobertor azul celeste.
*O mapa é atualizado com as últimas informações disponíveis.
As vítimas morreram afogadas ou soterradas.
Sônia, uma moradora ribeirinha, não conseguiu abrir a porta de casa contra a forte correnteza que se formou na enchente.
"Estava tudo escuro, não tinha luz. A força da água veio com tudo, ela morreu afogada", diz o frentista e vizinho, José Mauro.
Em frente ao que restou das casas arruinadas, havia carro de rodas para o ar e de lataria amassada como latinhas de cerveja, geladeira no teto, postes e árvores arrancados, antenas parabólicas caídas e entulhos de lixo.
O rio subiu dez metros acima do leito e cobriu os telhados. Não havia mobília que tivesse se salvado. Fogões, lavadoras, sofás, colchões, tudo estava amontoado do lado de fora.
A lama no vale era tanta que os 60 bombeiros da operação só chegaram à região mais crítica dos deslizamentos à tarde. Nem as picapes de tração nas quatro rodas venciam o atoleiro. Só os tratores conseguiam recolher os corpos, que chegavam aos montes, junto com os sobreviventes resgatados.
À noite, na escuridão ainda sem eletricidade, a família do cocheiro Michel Silvano saía em êxodo com crianças nos braços e uma trouxa de roupa, a única coisa que restou da enchente.
Marino Azevedo/Governo do RJ | ||
Imagem aérea mostra deslizamento em morro de Nova Friburgo, na região serrana do Rio; veja mais imagens |
CHUVAS
No total, as fortes chuvas na região serrana do Rio, desde terça-feira, deixaram 271 mortos.
De acordo com a prefeitura de Teresópolis, 130 pessoas morreram. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil, são 107 mortos em Nova Friburgo --entre eles três bombeiros.
Em 12 dias, já choveu em Nova Friburgo 84% a mais do que o volume esperado para todo o mês. Das 9 h de ontem às 9 h desta quarta-feira, foi registrado um índice pluviométrico de 182,8 mm --o índice esperado para janeiro inteiro era 199 mm. Desde o começo do ano, as chuvas acumuladas na cidade são de 366,8 mm. Cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado.
A região do vale do Cuiabá foi a mais atingida na cidade, com a água subindo mais de cinco metros de altura. Muitas casas foram destruídas pela força das águas do rio Santo Antônio.
Já em Teresópolis, o volume de chuva registrado nas mesmas 24 horas chegou a 124,6 mm. Com isso, as chuvas acumuladas no mês chegaram a 219 mm. O esperado para o período era de algo entre 140 e 200 mm.
O Inmet não tem números sobre a chuva em Petrópolis. A previsão do instituto é que as chuvas fortes continuem nos próximos dias, na região serrana e em outras áreas do Estado do Rio.