• Cotidiano

    Thursday, 25-Apr-2024 18:37:06 -03

    Após tragédia, boatos assustam a população em Nova Friburgo e Teresópolis

    DIANA BRITO
    ENVIADA ESPECIAL A NOVA FRIBURGO
    FÁBIA PRATES
    ENVIADA ESPECIAL A TERESÓPOLIS

    14/01/2011 11h08

    Depois da tragédia que deixou mais de 500 mortos na região serrana do Rio, Nova Friburgo e Teresópolis sofrem na manhã desta sexta-feira com uma profusão de boatos não confirmados sobre novos deslizamentos e arrastões.

    539 morrem na região serrana do RJ
    Tentativa de saque faz comércio fechar as portas em Teresópolis
    Região serrana do Rio registra mais de 500 mortos
    Rio tem maior desastre em nº de mortes no país
    Veja lista parcial de mortes na região serrana do Rio
    Saiba como fazer doações para as vítimas das chuvas
    Veja imagens dos estragos no Rio
    Leia a cobertura sobre as chuvas em todo o país
    Veja cobertura sobre chuvas na região serrana do Rio

    Em Conselheiro Paulino, segundo distrito mais importante de Nova Friburgo, a reportagem presenciou a saída de centenas de pessoas do local a pé, correndo e com carros na contramão. O pânico foi causado por boatos de que uma represa teria estourado e que a região seria inundada.

    O vendedor Robson Coelho, 22, seguia correndo para casa. "A princípio dizem que estourou uma represa, mas ninguém sabe o que aconteceu", disse. Outros moradores chegaram a mencionar a hipótese de rompimento de barragem, de novos deslizamentos e até do desabamento de um morro.

    Antes das chuvas, havia uma obra de canalização e alargamento do rio Bengalas no distrito de Conselheiro Paulino financiada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

    A PM passou em comboio pela região para acalmar a população e explicar que nada havia acontecido.

    Segundo a dona de casa Maria Vicênzia, 45, tudo começou com a passagem de um rapaz em um moto que gritou avisando a população de que era preciso sair da área porque uma represa tinha arrebentado.

    "Todo mundo ficou desesperado. Tirei minha neta que estava comigo em casa e minha filha e corri para um lugar seguro. É uma sensação de pavor. Depois do que passamos não é momento para brincar com uma coisa como essa", disse.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Em Teresópolis, um boato de arrastão parou o comércio no centro da cidade pela manhã. Houve tumulto e correria, por volta das 9h, quando circulou a informação, não confirmada pela polícia, de que um grupo estaria assaltando as lojas da região. Saques em casas e comércio abandonados já são registrados nas cidades devastadas.

    Num raio de três quilômetros, todas as lojas da Calçada da Fama e demais ruas nas imediações da Praça Santa Tereza, a principal do centro da cidade, fecharam as portas com medo.

    Segundo o coronel Júlio César Mafia Martins, comandante da Polícia Militar em Teresópolis, a boataria começou após a informação de que um grupo de três a cinco pessoas teria assaltado uma loja de celular e saído às ruas gritando "arrastão". Eles teriam fugido em direção ao Morro dos Pinheiros.

    Comerciários e consumidores saíram correndo pelas ruas espalhando a informação de que havia arrastão e levando pânico ao local. Alguns diziam que os homens estariam armados com pedaços de paus.

    A reportagem da Folha conversou com vários comerciantes. Nenhum deles foi vítima dos supostos bandidos. A cada loja, a informação era de que havia acontecido um assalto em outra.

    Na padaria Perê Pão, indicada como vítima de assalto, o gerente Demétrio Brisson afirmou que lá não houve nada. Mas ele próprio fechou as portas. "Tinha um alarme de arrastão e fechamos por precaução". Ninguém sabe se é verdade ou não.

    Na loja de roupas Promotion, também indicada como vítima dos assaltantes, não houve ameaça nem roubo. A loja foi uma das primeiras a abrir as portas, após a confusão.

    Vanderlei Almeida-13.jan.2011/AFP
    Carro é levado pelas águas após fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro; veja imagens
    Carro é levado pelas águas após fortes chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro; veja imagens

    Por volta das 10h, cerca de 70 homens da PM faziam o patrulhamento nas ruas. O coronel Mafia saiu percorrendo as ruas pessoalmente gritando aos comerciantes que não havia arrastão nem perigo e que as lojas poderiam ser reabertas.

    "Todos podem funcionar normalmente, foi um alarme falso. Não vamos deixar o medo dominar. Passou o Natal, tem que vender. Não existe a menor possibilidade de arrastão. O que existe é um medo muito grande e a vontade de alguns de não trabalhar."

    A declaração do coronel de que alguns não queriam trabalhar revoltou comerciários que estavam nas portas das lojas fechadas. Mas muitos admitiram que a vontade era que o comércio permanecesse fechado, já que a cidade está em luto de três dias e muitas pessoas perderam parentes na tragédia.

    TRAGÉDIA

    Ao todo, a região serrana do Rio já registrou 510 mortes devidos às chuvas desta semana. O número de mortes no Rio ultrapassou as que foram registradas no município de Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, em março de 1967. Na ocasião, foram contabilizadas 436 mortes em decorrência de fortes tempestades e deslizamentos de terra --condições semelhantes às das cidades no Rio nesta semana.

    De acordo com a professora Luci Hidalgo Nunes, doutora do Departamento de Geografia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), os dados sobre o episódio são estimados por conta das dificuldades, à época, para localizar os corpos.

    Mesmo assim, segundo a professora, é possível afirmar que o desastre deixam 510 mortos no Rio; tragédia no Rio é a maior do Brasil.

    Como a Folha mostrou hoje, mais de 30 projetos com medidas para minimizar os efeitos das enchentes estão parados no Congresso. As propostas vão de benefícios fiscais para quem doa recursos às vítimas das chuvas até informações solicitadas ao governo federal em tragédias passadas que nunca chegaram ao Legislativo.

    Jorge Araújo-13.jan.2011/Folhapress
    Pousada Tombo Los Inca foi totalmente destruída na região serrana do Rio de Janeiro; veja imagens
    Pousada Tombo Los Inca foi totalmente destruída na região serrana do Rio de Janeiro; veja imagens

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024