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    Apesar da aura mítica, bandeirante era assassino do sertão

    RICARDO MIOTO
    SABINE RIGHETTI
    GIULIANA MIRANDA
    DE SÃO PAULO

    25/01/2011 03h00

    Ainda que estradas, avenidas e palácios levem seus nomes, os bandeirantes eram mais assassinos do que heróis desbravadores.

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    É o que mostram os relatos sobre esses responsáveis pelo frutífero negócio de trazer índios do interior do país para a escravidão no século 17.

    Segundo o relato de jesuítas, "na longa caminhada até São Paulo, chegam a cortar braços de uns [índios] para com eles açoitarem aos outros". Mais: "matam os velhos e crianças que não conseguem caminhar, dando de comida aos cachorros".

    Nomes como Raposo Tavares, Fernão Dias e Domingos Jorge Velho com frequência apareciam associados à violência e a assassinatos.

    Não foi apenas moral a ilusão criada sobre os bandeirantes, porém. Até suas roupas são retratadas de maneira errada. Não usavam, por exemplo, botas, nem que o destino fosse muito longe: o próprio Jorge Velho foi descalço de São Paulo ao Piauí.

    Editoria de Arte/Folhapress

    A aparência corpulenta e a pele alva das pinturas também não são reais.

    "A maioria era filho de branco com índia, com a pele mais escura", diz Manuel Pacheco, da Universidade Federal da Grande Dourados. "A alimentação era restrita. O bandeirante gordo dos quadros é muito improvável."

    Esse mito dos bandeirantes foi consolidado após décadas de "marketing".

    A imagem heroica foi incentivada com a ascensão dos cafeicultores paulistas à elite econômica do Brasil, no fim do século 19. A partir de 1903, essa orientação foi incorporada à política, e o governo estadual passou a bancar obras de arte que apoiassem essa aura mítica.

    Com o passar dos anos, o mito foi sendo incorporado a outros grupos, que queriam se associar a essa imagem de coragem. Entram aí os constitucionalistas de 1932, o governo Vargas e até a ditadura militar.

    Alessandro Shinoda/Folhapress
    Estátua de Borba Gato, na avenida Santo Amaro, zona sul de SP; trajes nobres não eram realidade dos bandeirantes
    Estátua de Borba Gato, na av. Santo Amaro (zona sul de SP); trajes nobres não eram realidade dos bandeirantes

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