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    PM acusado de decapitar dois jovens é absolvido em SP

    ANDRÉ CARAMANTE
    DE SÃO PAULO

    24/11/2011 19h01

    O soldado da Polícia Militar Jonas Santos Bento, 28, foi absolvido na tarde desta quinta-feira no processo em que era acusado de sequestrar e decapitar dois jovens em São Paulo. O julgamento aconteceu no fórum de Itapecerica da Serra, região metropolitana.

    Preso desde o começo de 2009, o soldado era acusado de sequestrar e decapitar Roberth Sandro Campos Gomes, 19, o Maranhão, e Roberto Aparecido Ferreira, 20, o Bebê, de acordo com a Delegacia Seccional de Taboão da Serra, da Polícia Civil, e o Ministério Público Estadual. O crime ocorreu em 6 de maio de 2008, no Jardim Imbé, zona sul de São Paulo.

    A defesa de Bento sustentou não existir provas materiais de que ele tenha participado do crime, e a tese foi aceita pela maioria dos jurados.

    Segundo a Delegacia Seccional de Taboão, Gomes e Ferreira foram detidos por um grupo de PMs do qual Bento fazia parte. Naquela madrugada, os dois jovens foram vistos entrando em um carro do 37º Batalhão, também na zona sul.

    Uma jovem que acompanhava os rapazes reconheceu dois PMs como sendo os que levaram os jovens depois de mandá-la para casa.

    Os corpos de Gomes e Ferreira foram encontrados em Itapecerica da Serra, sem as mãos e a cabeça, no fim daquele maio de 2008.

    Cortar a cabeça e as mãos das vítimas, segundo a acusação, era uma estratégia dos PMs para evitar a identificação das vítimas, daí o nome do grupo de extermínio ser "Os Highlanders".

    Ao todo, os nove PMs acusados de integrar o grupo são suspeitos de 12 mortes --em cinco delas, as vítimas foram decapitadas. Todos os PMs eram da Força Tática (espécie de tropa especial) do 37º Batalhão da Polícia Militar.

    Também acusados de participar dos crimes contra Gomes e Ferreira, os soldados Rodolfo da Silva Vieira e Marcos Aurélio Pereira Lima ainda não foram julgados.

    CONDENADO

    Outro réu no processo pela morte de Gomes e Ferreira, o soldado Ronaldo dos Reis Santos, 30, o R.Santos, foi condenado em setembro passado a 28 anos de prisão pela decapitação de dois jovens. A defesa do PM Santos recorreu da condenação.

    Ao lado dos PMs Rodolfo Vieira e Marcos Lima, Santos confessou as mortes de Gomes e Ferreira durante a fase de investigação do caso. Depois, Marcos Lima e Santos voltaram atrás e disseram não ter participado do crime.

    ABSOLVIDOS

    O sargento Jorge Kazuo Takiguti e o soldado João Bernardo da Silva também eram réus pelas mortes de Gomes e Ferreira e, em março deste ano, foram julgados e absolvidos da acusação. Eles voltaram a trabalhar normalmente na corporação.

    JÚRI ANULADO

    Apontado pela Promotoria e Polícia Civil como chefe do grupo de extermínio, o soldado Rodolfo Vieira foi condenado, em julho de 2010, a 18 anos e oito meses de prisão pela decapitação do deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves, 31. O crime foi em outubro de 2008.

    O soldado Vieira foi condenado pela morte de Alves ao lado dos PMs Moisés Alves Santos, Joaquim Aleixo Neto e Anderson dos Santos Salles, que eram lotados no 37º Batalhão.

    Em outubro passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou o júri que condenou os quatro PMs pela morte de Alves.

    A decisão teve como base um pedido do advogado Celso Machado Vendramini, defensor dos réus, que alegou que, durante a fase de debates do júri, o promotor Vitor Petri descumpriu uma ordem do juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov e exibiu uma camiseta com a foto de Alves e dizeres contra a polícia. O argumento é que a imagem poderia influenciar os jurados.

    "O ato de mostrar aos jurados aquela camiseta foi totalmente irregular. Agora, terei a chance de mostrar aos sete novos jurados que meus clientes não sequestraram e arrancaram a cabeça de ninguém", disse Vendramini.

    Com a anulação do júri, Rodolfo Vieira, Moisés Santos, Joaquim Neto e Anderson Salles permanecerão presos no Presídio Militar Romão Gomes. O novo júri ainda será marcado pela Justiça.

    Em dezembro de 2010, os quatro réus haviam sido demitidos da Polícia Militar.

    CHEFE PROTEGIDO

    O soldado Rodolfo Vieira também é apontado pela Polícia Civil como chefe do grupo de extermínio porque contava com a suposta proteção do coronel Eduardo Félix de Oliveira --amigo de seu pai, o capitão Paulo Roberto da Silva Vieira, que, durante anos, esteve lotado no extinto Tacrim (Tribunal de Alçada Criminal).

    Oliveira, por meio da Comunicação Social da PM, sempre negou manter relação de proteção ao soldado Vieira ou a qualquer outro dos nove acusados de integrar o grupo de extermínio.

    A Folha tenta entrevistar Oliveira desde 2009, mas ele sempre se nega a falar.

    Hoje na Reserva, o coronel Oliveira foi até cotado para ser o comandante-geral da PM quando estava em atividade. Oliveira também foi chefe da Tropa de Choque da PM e, atualmente, é membro da equipe de gestão de Gilberto Kassab (PSD) e atua como subprefeito da Penha (zona leste de São Paulo).

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