Sete pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas na madrugada de ontem em Santos, na segunda série de assassinatos na região em menos de três dias --a primeira foi na quinta-feira.
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As características foram semelhantes: assassinatos de civis ocorreram após a morte de um policial. Uma vítima tinha passagem por tráfico --a polícia não divulgou as informações das demais.
Tudo começou com a morte do sargento da Polícia Militar Marcelo Fukuhara, 45, à 0h45 de ontem. Ele foi assassinado a tiros de fuzil em frente ao buffet da mulher dele, na Ponta da Praia.
Ao socorrê-lo, José Antônio Alves de Carvalho, 53, funcionário do buffet, também foi assassinado. Testemunhas disseram à polícia que os tiros partiram de uma camionete parada no local.
Duas horas depois, seis ataques se sucederam.
No primeiro deles, na rua Comendador Martins, na Vila Matias, periferia de Santos, um carro escuro passou e começou a atirar. Fábio Manoel França, 29, e José Rodrigo de Pina Júnior, 25, morreram.
Leonardo da Silva Nascimento ficou ferido de raspão na orelha. França já fora preso por tráfico, disse a mãe dele.
Alguns metros adiante, na mesma rua, Melissa Gouveia, 36, também foi morta a tiros.
As outras cinco ações foram entre as 4h e as 5h.
Na mais grave, dois homens encapuzados invadiram uma casa e mataram Carlos Roberto de Jesus, 53, com tiros na cabeça. A mulher dele, Tatiana Fonseca Oliveira, foi baleada, mas sobreviveu.
A outra vitimou Fábio Rodrigues Lourenço, 36, morto por homens em um carro escoltado por uma moto. No mesmo ataque, José Oliveira dos Santos, 62, ficou ferido.
Em outro caso, Vagner de Jesus Santos e Reinaldo Santos Moreira Filho, 24, foram baleados, mas sobreviveram.
BRIGA
O Ministério Público suspeita que seja mais um capítulo do confronto entre policiais e criminosos do PCC. O órgão recebeu informações de que na madrugada de ontem um grupo de bandidos saiu de São Paulo para a Baixada Santista a fim de realizar ataques.
A suspeita é que a morte do PM Fukuhara tenha sido o primeira desses crimes.
Há ainda a hipótese de que as mortes na Baixada tenham sido resultado de briga de grupos de criminosos rivais.
A Polícia Civil irá apurar o caso. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) não falou. Disse que a Secretaria da Segurança falaria, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.
SAIBA MAIS
Uma ação com características semelhantes às de ontem ocorreu na última quinta-feira, também na Baixada Santista.
Na ocasião, sete pessoas foram assassinadas em menos de 20 horas, no Guarujá, por homens que estavam em uma moto.
Tal qual os casos de ontem, um policial militar havia sido assassinado horas antes em São Vicente e outro fora vítima de um atentado no Guarujá.
Na ocasião, o promotor do Ministério Público Estadual Cássio Roberto Conserino classificou a situação de "guerra civil" entre a polícia e criminosos do PCC. Ele investiga o crime organizado na Baixada.
A Folha revelou na sexta que chefes da facção criminosa deram ordens para a matança de policiais -houve ao menos 76 mortes no Estado neste ano.
No mesmo dia, questionado pela Folha sobre as ordens para matar policiais, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) evitou se manifestar.
LENDA
No início da semana passada, ele disse que "há muita lenda" sobre facções criminosas em São Paulo.
Já o secretário Antonio Ferreira Pinto afirmou, na quarta-feira da semana passada, não haver "batalha" entre a polícia e a facção.
"O governo continua na sua linha de combate à criminalidade, seja ela de que origem for. Temos uma média de dois presos por dia."
A facção criminosa, para ele, "é bem menor do que dizem": não chega a 30 ou 40 indivíduos presos há muito tempo, continuou.
Era uma resposta a planilhas do bando apreendidas pela polícia -e reveladas pela Folha- segundo as quais a facção tem 1.343 bandidos em 123 das 645 cidades paulistas.
Colaborou ANDRÉ CARAMANTE