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    Autora de 'Diário de Classe' diz que não sai mais sozinha

    NATÁLIA CANCIAN
    DE SÃO PAULO

    11/11/2012 01h46

    Depois de criar o "Diário de Classe", diário virtual em que relata os problemas da escola pública onde estuda, a catarinense Isadora Faber, 13, viu sua vida mudar.

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    Na escola, enfrenta ameaças de alunos e funcionários. Os pais não a deixam mais sair sozinha. "Tem gente que diz que vai me bater", conta.

    Alvarlio Kurossu/Agência RBS/Folhapress
    Isadora Faber criou página no Facebook para denunciar problemas em sua escola
    Isadora Faber criou página no Facebook para denunciar problemas em sua escola

    Em entrevista à Folha, a aluna da 7ª série da escola municipal Maria Tomázia Coelho, de Florianópolis, fala sobre sua rotina (que inclui duas horas diárias para ver os comentários da página) e as represálias que sofre.

    *

    Folha - Você criou o "Diário de Classe" em julho. Como vê o resultado hoje?

    Isadora Faber - Fico muito feliz com o resultado e um pouco triste com o jeito que alguns alunos agem em relação a isso, porque veio muita coisa boa para a escola. Mas os professores contam para eles que estou fazendo uma coisa ruim, que eles têm que tomar uma providência.

    O que esses alunos dizem?

    Tem bastante aluno que me xinga, que diz que vai me bater, me pegar na saída. Mas não tenho medo porque meus pais estão sempre lá.

    Sua rotina mudou?

    Antes eu podia sair sozinha. Agora, não. Meus pais estão preocupados. Na rua, bastante gente me olha com cara feia. E alguns vêm me dizer parabéns pela coragem.

    Hoje, o diário tem mais de 370 mil seguidores. Você imaginava essa repercussão?

    Minha intenção era só mostrar como as escolas públicas eram por dentro. Eu fiquei surpresa e feliz quando começaram as reformas.

    Há alguma coisa que ainda precisa melhorar por lá?

    Falta pintura na escola inteira. A diretora disse que iam pintar, mas o pintor nunca apareceu. E já faz dois anos.

    Sua casa foi apedrejada na segunda-feira. Como foi isso?

    Estávamos no pátio, e começou a vir pedra, uma na grama, outras no carro. Uma acertou a minha avó, que não fala nem anda. Eu e minhas irmãs corremos para dentro. Meu pai foi ver quem estava jogando, mas não deu tempo, porque minha avó estava sangrando. Fiquei com um pouco de raiva.

    Você acha que o ataque está relacionado ao diário?

    Bah, com certeza. É muita gente me ameaçando.

    Como são as ameaças?

    A maioria vem da filha do pintor [da quadra, a quem Isadora criticou no Facebook por não ter feito o serviço] e das amigas dela. Elas falam que vão me bater, que vão me pegar na rua.

    A diretora faz alguma coisa?

    Às vezes ela chama todo mundo para conversar, mas nunca resolve.

    Como você reage?

    Dependendo da ameaça, meu pai faz BO [boletim de ocorrência]. E eu tento não dar bola. Fico quieta.

    Em setembro, você foi à delegacia depois que uma professora reclamou de uma postagem sua...

    Ela nem me olha. Se eu tiver alguma dúvida, até posso perguntar, mas é bem difícil.

    Algum professor lhe dá apoio?

    Não. Nenhum.

    E os colegas?

    Os da minha sala são os que mais dão apoio. Mas os outros da escola, não.

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