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    Fumaça tóxica mata por asfixia em até dez minutos, diz especialista

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    27/01/2013 18h29

    Para que que haja uma morte em decorrência de uma asfixia, como aconteceu na boate Kiss, em Santa Maria (323 km de Porto Alegre), são necessários pelo menos dez minutos de exposição à fumaça tóxica. A avaliação é do pneumologista Humberto Bogossian, do hospital Albert Einstein, de São Paulo.

    De acordo com o profissional, em uma situação como a que houve em Santa Maria (RS), as vítimas ficam expostas a três fases de contaminação que, em conjunto, sem cuidados médicos, vão levar à morte.

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    "No primeiro momento, acontece uma lesão térmica no sistema respiratório provocada pelo calor no ambiente. A temperatura pode ficar tão elevada que a proteção que temos na narina fica perdida. Acontece uma queimadura de toda a mucosa respiratória. Será possível respirar, mas com dificuldade", disse o médico.

    Bogossian explica que, com o tempo, a queimadura vai provocar um inchaço e o fechamento parcial do canal onde passa o ar.

    "Quando isso acontece, muitas vezes, será necessário fazer uma ventilação mecânica preventiva. Entubar o paciente e medicá-lo para evitar a piora do quadro."

    Conforme o médico, o segundo momento de risco na exposição à fumaça é a diminuição do nível de oxigênio no ar, o que irá provocar a falta do elemento no sangue e o início da morte de células no cérebro.

    "A falta de oxigenação no sangue vai complicar o sistema nervoso e a parte cardiológica do vítima, que fica exposta até a uma parada cardíaca. Em princípio, o que acontece é uma dificuldade de respirar e o início de uma perda de consciência."

    O terceiro momento da contaminação, segundo o pneumologista, é o contato com o monóxido de carbono, que vai afetar o transporte de oxigênio pelo corpo, afetando as hemácias (células do sangue).

    "A somatória desses eventos e a situação de caos dentro da boate, que vai provocar mais consumo de oxigênio ainda, vão tornar difícil uma reação do organismo. A pessoa acaba morrendo."

    O médico explicou que o tempo exato de resistência à fumaça depende das características de severidade do meio, mas avalia, pelas informações que teve da boate Kiss, que naquela situação as vítimas tiveram pelo menos dez minutos de resistência.

    "Daria tempo para aguentar uns dez minutos, imagino. O quadro não ficou insuportável imediatamente e foi piorando com o tempo."

    Editoria de Arte/Folhapress

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