Numa cerimônia sem música, togas e risos, 14 estudantes do curso de zootecnia da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) colaram grau ontem pela manhã.
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Eles foram os primeiros a se formar na universidade após o incêndio que matou 114 alunos da instituição, sendo cinco deles dessa mesmo curso.
A colação de grau era necessária para que os formandos pudessem pegar os diplomas em tempo de participar das próximas seleções para mestrado, explicou a coordenadora do curso, professora Rosamélia Berleze. A previsão inicial era de uma formatura com festa, que, segundo ela, ficará para outra ocasião.
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Colação de grau da 48ª turma de zootecnia no Centro de Ciências Rurais, a primeira após a tragédia na boate Kiss |
No auditório do Centro de Ciências Rurais, onde ocorreu o evento, a mesa de onde o reitor Felipe Müller presidiu a formatura era adornada com flores brancas. Um banner registrava o luto da 48ª turma de zootecnia.
Havia poucos presentes. Uma era o filho recém-nascido de uma das formandas.
As bandeiras ali colocadas --do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Santa Maria-- estavam a meio mastro.
A coordenadora do curso abriu a sessão com a voz embargada. "Com imenso pesar e muita tristeza, queremos prestar uma homenagem a todos os jovens que perderam a vida", disse, evocando os nomes dos cinco alunos mortos.
Após o juramento, os 14 formandos foram identificados pelo nome e pela cidade de onde vieram --11 no total, incluindo São Paulo, de onde veio Thamyres Martino, 24.
Ela não estava na Kiss no dia do incêndio, mas disse que frequentava o local e que conhecia as vítimas.
O reitor enalteceu a atitude da turma. "Temos de seguir em frente. Temos de orar pelos que se foram, pelos que precisam se recuperar e para que tenhamos forças para que os que retornam na segunda se sintam acolhidos e homenageados", disse.
Entre a abertura, a entrega dos certificados e as saudações finais, a cerimônia durou cerca de 40 minutos.
Ao final, os formandos recolheram os buquês e o banner e os levaram até a fachada da boate.
Ao chegar à rua dos Andradas, onde centenas de buquês e mensagens de pesar deixadas por familiares e amigos estão depositados, os agora zootécnicos depositaram suas flores e penduraram o banner.
Depois disso, fizeram uma oração silenciosa em círculo e deixaram o local em fila.
Editoria de Arte/Folhapress |
INCÊNDIO
O incêndio aconteceu na madrugada de domingo (27) na boate Kiss, localizada no centro de Santa Maria (RS). O local é famoso por receber estudantes universitários. Ao todo, 236 pessoas morreram e outras 114permanecem internadas.
O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico da boate, após um integrante da banda Gurizada Fandangueira manipular um sinalizador. Faíscas atingiram o teto e iniciou as chamas. O guitarrista da banda afirmou que o extintor de incêndio não funcionou.
Sobreviventes relataram que, antes de perceberem o incêndio, os seguranças teriam impedido os jovens de saírem sem pagar.
A maioria das vítimas morreu por asfixia durante a festa promovida por alunos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Muitas foram encontradas amontoadas nos banheiros, por onde tentaram fugir do fogo.
No local, havia apenas uma uma porta, que funcionava como a única passagem de entrada e saída da boate. Bombeiros e sobreviventes quebraram a fachada da casa noturna a marretadas para retirar as pessoas.
A boate Kiss, com capacidade para até 691 pessoas, recebeu entre 900 e 1.000 no dia do incêndio, de acordo com a polícia.
A direção da Kiss divulgou nota afirmando que a casa estava dentro da normalidade e creditou o incêndio a uma "fatalidade".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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