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    No atual ritmo, SP levaria quase 3.000 anos para enterrar fiação

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    24/02/2013 05h30

    Um cálculo simples dá conta do tamanho do desafio que será enterrar a fiação elétrica na cidade de São Paulo. A rede aérea tem hoje 38 mil quilômetros. Como de 2006 para cá foram enterrados 13 quilômetros de fios, nessa toada, demoraria quase 3.000 anos para o serviço terminar.

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    A capital, segundo a concessionária AES Eletropaulo, tem no total 3.000 quilômetros de redes subterrâneas, concentradas nos bairros centrais, como em Higienópolis. Muitas delas antigas.

    Segundo especialistas, o problema hoje é financeiro, e não tecnológico. Estimativas da AES Eletropaulo e da prefeitura (gestão Kassab) indicam um custo de R$ 100 bilhões para sumir com os fios.

    "O poder público pode exigir que empreendimentos que envolvam remodelação de espaços públicos só possam ser feitos enterrando-se a fiação", diz Renato Cymbalista, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. "Deveria ser criado um fundo para [enterrar] uma metragem específica por ano."

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Fiação na alameda Santos, na região dos Jardins, região nobre de São Paulo
    Fiação na alameda Santos, na região dos Jardins, região nobre de São Paulo

    A lei municipal que obriga a AES Eletropaulo enterrar parte de sua rede a cada ano é contestada na Justiça. A empresa sozinha não é responsável por custear esse serviço, têm dito os juízes.

    Na Europa, grandes projetos de enterramento de fios, por causa do volume, tornaram-se rentáveis. A Alemanha, em três anos a partir de 2000, passou de 4,3% de sua rede enterrada para 75%. O Reino Unido, no mesmo período, saltou de 1,4% para 81% de redes enterradas --São Paulo tem hoje 7%.

    Os temporais paulistanos mostram que enterrar fio não é só questão estética, mas de segurança --redes aéreas desligam com mais frequência e são mais vulneráveis, por exemplo, a queda de árvores quando venta ou chove.

    Editoria de Arte/Folhapress

    PERCEPÇÃO

    Convidado a refletir sobre por que andar pela rua Oscar Freire, nos Jardins, é uma experiência estética agradável, o gerente comercial Fabio Barbero responde de pronto.

    "O que mais me agrada é o fato de a rua não ter fios aéreos. Sou fotógrafo amador. O que mais estraga minhas fotos sobre prédios de São Paulo é a quantidade de fios que tem em frente a eles."

    A voz de Barbero é unanimidade entre frequentadores de ruas como a Oscar Freire, a Amauri, nos Jardins, e a Avanhandava, na região central. Os três locais têm a fiação enterrada por causa da iniciativa de comerciantes.

    "Não ter fios é algo de primeiro mundo. É realidade nos EUA e na Europa", disse a empresária Ana Haguet, enquanto passeava pela Oscar Freire na última quinta-feira.

    A necessidade de enterrar os fios da cidade é consenso até entre rivais do mundo político, caso do prefeito Fernando Haddad (PT) e do secretário estadual de Energia José Anibal (PSDB). "A solução definitiva mesmo é enterrar tudo", diz Anibal.

    A gestão Haddad diz que o primeiro passo para isso será lançar um edital para colocar sob o solo, pelo menos, os fios que alimentam os semáforos da cidade.

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