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    Rio de Janeiro

    Alta do aluguel ameaça lojas históricas na rua da Carioca, no Rio

    MARIANA SALLOWICZ
    DO RIO

    31/03/2013 03h10

    Comerciantes da tradicional rua da Carioca --quarteirão histórico e tombado no centro do Rio-- têm trabalhado sem a garantia de que poderão manter o negócio no local nos próximos meses por causa do aumento do preço dos aluguéis.

    A notícia preocupa moradores da cidade, que viram seus pais e avós frequentarem restaurantes e lojas que já viraram patrimônio do Rio.

    Lojistas querem entrar com ação contra vendas

    Entre eles está lá o Bar Luiz, há 86 anos na rua. O casarão do final do século 19 recebeu ao longo da sua história intelectuais, boêmios e políticos, de Ary Barroso a Millôr Fernandes. Ainda hoje é ponto de encontro dos cariocas e obrigatório para turistas.

    A rua abriga várias lojas de acessórios e instrumentos musicais como a Guitarra de Prata, fundada em 1887. Pelo local, já passaram Pixinguinha e Noel Rosa. Uma delas, no número 43, fechou as portas recentemente. Outros estabelecimentos centenários também estão ameaçados.

    O motivo: o aluguel de alguns casarões, no lado ímpar, subiu fortemente neste ano. Os contratos estão sendo revisados com data retroativa a 1º de janeiro.

    Daniel Marenco/Folhapress
    Sobrados da tradicional rua da Carioca, na região central do Rio de Janeiro; alta do aluguel ameaça as lojas locais
    Sobrados da tradicional rua da Carioca, na região central do Rio de Janeiro; alta do aluguel ameaça as lojas locais

    O grupo Opportunity comprou cerca de 40 imóveis da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência --18 deles são casarões localizados no lado ímpar da rua, nos limites do morro de Santo Antônio. Após o negócio, a maior parte dos contratos de locação perdeu a eficácia.

    "Ficaram de fora apenas os que tinham no contrato e no registro do imóvel a garantia de que o aluguel seria mantido. A maioria não tinha", diz Roberto Cury, presidente da Sarca (Sociedade Amigos da Rua da Carioca e Adjacências).

    Muitos dizem não ter condições financeiras de manter o negócio após o aumento. O novo locatário alega que a renovação dos contratos é feita "a preço justo" (leia mais na página C5).
    Em um dos casos, o valor cobrado mensalmente passará de R$ 10 mil para R$ 68 mil. Mas o grupo alega que o imóvel tem uma área de 958 m². "Se tivermos que pagar esse valor, será inviável ficarmos aqui", diz Felipe Rio, sócio do restaurante Cataroca, que teve o aumento.

    Os comerciantes acreditam que o reajuste é uma forma de expulsá-los do local para ser feito um shopping, o que é negado pelo Opportunty.

    Os comerciantes dizem que têm sido pressionados para fechar o acordo. Eles têm até o final deste mês para assinar os novos contratos de aluguel, segundo a Sarca. Caso não assinem, terão 90 dias para entregar os imóveis.

    Ed. de arte/Folhapress

    HISTÓRICOS

    O gerente de operação do Bar Luiz, Manlio Vettorazzo, diz que o movimento aumentou com a polêmica. "Clientes que não vinham aqui há anos dizem que voltaram para se despedir."

    Ele não acredita que o bar será fechado e conta que o novo dono do imóvel contratou uma empresa de restauração para descobrir qual a cor original da parede. "Acho mais provável que seja feita uma restauração aqui. O Bar Luiz é um patrimônio da cidade".

    Apesar de carregados de história --como a Casa Vesúvio que, desde 1946, vende guarda-chuvas e o Cine Íris, num casarão do início século 20, que apresentava teatro de revista e hoje tem shows de strip-tease-- muitos casarões estão mal conservados.

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