O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) admitiu nesta terça-feira (18) que o governo federal não conseguiu ainda entender as razões das sucessivas manifestações pelo país por terem um novo formato, diferentes dos tradicionais protestos do passado --em que havia carros de sons e lideranças identificadas para negociações.
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Carvalho também afirmou que o novo modelo é "extremamente complexo", especialmente pela multiplicidade das manifestações em diversas cidades do país.
"Seria pretensão achar que a gente compreende o que está acontecendo. Temos que buscar entender a complexidade. São novas formas de mobilização que nós, da geração 70, 80 e 90 não conhecíamos. O advento das redes sociais, a vontade de participação que cresce e sai do Facebook para a prática e traz, como eles dizem, um novo repertório", disse o ministro.
Carvalho disse que a sociedade brasileira "não quer mais" algumas práticas políticas adotadas no país, como a construção de estádios milionários na Copa do Mundo localizados ao lado de hospitais públicos que não têm estrutura para atendimento da população.
"Dá impressão que a sociedade brasileira, nós superamos alguns obstáculos de democracia, de incluir muita gente, mas a sociedade quer mais. Na questão da mobilidade urbana, temos problema. A frota de ônibus de São Paulo é a mesma de sete, oito anos atrás. Temos problema grave de transporte aqui em Brasília. A questão da Copa, temos que estar atentos. Se a gente não for sensível, se a gente se fechar a esse tipo de reivindicação, vamos na contramão da história. Temos que tentar entender e abrir canais de conversas", afirmou.
EXCESSOS
Em audiência na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, Carvalho disse que o governo apoia as manifestações pacíficas que vêm ocorrendo no país, mas não vai tolerar "excessos" como a tentativa de invasão do Congresso Nacional e o fechamento de ruas e avenidas em diversas cidades do país.
Responsável por dialogar com os manifestantes em nome do governo, Carvalho disse que o Palácio do Planalto monitora a ação da Polícia Militar, em contato constante com os governos estaduais, mas tem a determinação de não concordar com radicalismos.
"Não se invade o Congresso. Não se pode permitir que a Assembleia do Rio seja ocupada. Esse é o limite. Cabe ao governo zelar pela ordem nesse aspecto. A multiplicidade das expressões torna mais complexas as manifestações e revela que há grupos múltiplos, cada um com uma orientação diferente, que se juntam, mas que sua expressão é diversa", afirmou.
Carvalho disse que a força policial entrou em ação, e vai continuar a agir, para controlar atos de violência nas manifestações --como no caso de Brasília, no último sábado, quando os manifestantes teriam tentado impedir a entrada de torcedores no estádio Mané Garrincha para assistir à partida Brasil x Japão pela Copa das Confederações.
"São atos pacíficos, mas no final se jogaram no lago aqui, queimaram pneus no Mané Garrincha, tentaram impedir a entrada de torcedores no estádio. Foi neste momento que a força policial acabou agindo."
POLÍCIA
Sobre a ação da polícia nas manifestações, Carvalho elogiou nominalmente a PM de São Paulo no protesto realizado ontem, assim como os policiais de Brasília que acompanharam o ato em cima da cúpula do Congresso.
"O comportamento da PM em São Paulo foi exemplar até o final. Aqui em Brasília, aconteceu a mesma coisa. Houve problema no sábado, detectamos que havia uso das balas de borracha, entendemos que era necessário, houve intervenção do governador [do DF] e o processo foi de maneira adequada", afirmou.
Carvalho disse que o Ministério da Justiça vai apurar se houve excessos da polícia de São Paulo na manifestação que deixou civis e jornalistas feridos por balas de borracha, entre eles sete jornalistas da Folha.
O ministro também disse que o governo vai responsabilizar servidores do governo federal que tenham participado de manifestações com violência, mas negou que cinco servidores do Palácio do Planalto estejam envolvidos nos protestos.
Carvalho disse que apenas um servidor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência foi identificado pela polícia como um dos organizadores do protesto de sábado, em Brasília --e não quatro, como informado pela própria polícia.
"Houve ontem embate nosso com pessoal do governo do DF porque o secretário de segurança me garantiu que apenas uma pessoa da secretaria foi vista na manifestação do sábado. Os outros quatro não participaram dos eventos. Pedimos que a Secretaria de Segurança do DF faça nota para restabelecer a verdade dos fatos. Qualquer funcionário público tem direito de se manifestar, mas se participar de movimentos ilícitos, serão responsabilizados", afirmou.