Os feitos do major-brigadeiro do ar Rui Moreira Lima dariam um livro. E é isso que o filho, Pedro, pretende fazer: quer contar a todos os brasileiros como o pai tornou-se um herói nacional ao cumprir 94 missões de combate na Segunda Guerra Mundial e defender a punição de militares torturadores da ditadura.
Rui decidiu ser piloto após assistir a uma apresentação de três aviões da Marinha no Maranhão, sua terra natal. Foi para o Rio estudar na Escola Militar de Realengo, sem jamais esquecer que seu pai tinha horror a regimes ditatoriais. Nunca participou de golpes e dizia que as pessoas deveriam lutar por seus direitos.
Suas posições o levaram a ser afastado do cargo poucos dias após o golpe de 64. Foi preso por três vezes. Passou fome no porão de um navio usado como prisão e foi torturado psicologicamente.
Antes da primeira prisão, disse a um de seus superiores que não queria ser preso "com show". "Ele não queria viatura na frente de casa, não era um bandido. Disse que era só ligarem para informar onde ele deveria se apresentar. E assim foi", conta Pedro.
Seu depoimento à Comissão da Verdade levou à criação de um grupo dedicado a militares perseguidos no regime. Lutou pela anistia completa dos colegas cassados.
É autor de "Senta A Pua! A Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra Mundial", livro em que conta a trajetória de brasileiros que lutaram no conflito --e que inspirou documentário de mesmo nome.
Em todos os momentos difíceis, Ruizinho, como era chamado pela família, teve dona Julinha ao seu lado. Viveu quase 70 anos ao lado da mulher, que ele deixou grávida do primeiro filho quando foi para a guerra na Europa.
Tiveram mais três, mas a segunda morreu aos dois anos de idade, o que marcou profundamente a vida do casal.
Internado por causa de um acidente vascular cerebral, morreu anteontem, aos 94. Pediu para ser enterrado ao lado da filha Verinha, e não com outros colegas aviadores.
Além da viúva, deixa os filhos Soninha, Pedrinho e Claudinha, seis netos e dois bisnetos. A missa do sétimo dia será na próxima terça, às 16h, no Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, no Rio.
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