A sala da professora Elza Gomide, no Instituto de Matemática e Estatística da USP, estava sempre aberta, estivesse ela ou não lá dentro.
Quando o local estava vazio, os colegas simplesmente entravam para pegar um livro emprestado ou ler os jornais. Já quem a encontrava por lá aproveitava para conversar ou pedir algum dos seus sábios conselhos.
Para os docentes do IME, aquela porta destrancada simbolizava o pensamento aberto e criativo de Elza.
Totalmente dedicada à vida acadêmica, foi a primeira doutora em matemática formada pela Universidade de São Paulo, em 1950.
Na sala de aula, era conhecida por falar baixinho e por sua rigidez. No entanto, por causa de suas opiniões fortes, costumava ser mais durona com os próprios colegas.
Na reforma universitária de 1970, quando o IME foi fundado, Elza, então chefe do Departamento de Matemática, contribuiu de forma significativa para que o instituto fosse o formador de professores e pesquisadores que é hoje.
Participou da criação da Sociedade de Matemática de São Paulo e na transformação dessa em Sociedade Brasileira de Matemática.
Mesmo após sua aposentadoria, em 1995, continuou a contribuir com a USP, enquanto sua saúde lhe permitiu.
Muito culta, gostava de música, teatro e artes plásticas, meio que frequentou desde pequena. Era sobrinha dos artistas plásticos Antonio Gomide e John Graz. Já a paixão pela matemática ela herdou do pai e do avô paterno, professores da disciplina.
Na época da ditadura, acolheu em sua casa perseguidos políticos, incluindo o irmão de uma professora do IME.
Morreu no dia 26, aos 88 anos. Deixa dois sobrinhos.
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