A tática adotada pela PM na manifestação contra a Copa no último sábado já causou polêmica em protestos na Europa e nos Estados Unidos.
O "kettling" (que vem de chaleira, em inglês) consiste em cercar os manifestantes com objetivo de impedir danos e desarticular a organização do movimento.
O primeiro uso dessa estratégia foi documentado em 1986, na cidade alemã de Hamburgo. Na ocasião, a polícia cercou, por 13 horas, 800 pessoas que protestavam contra o uso de energia nuclear, sem que elas pudessem sequer ir ao banheiro.
Depois disso, a tática policial foi usada em grandes protestos realizados em Madri, Londres e Seattle.
Em 2012, apesar das constantes críticas, a Corte Europeia de Direitos Humanos considerou que o "kettling" não era ilegal.
O coronel José Vicente da Silva, da reserva da PM e especialista em segurança, define a ação como um trabalho de inteligência para cercar as pessoas mais agressivas. "Depois, são retirados os elementos que estiverem cometendo crimes", diz.
Ele cita um gráfico do manual da polícia de Nova York que mostra um cordão de policiais e a retirada dos manifestantes em ônibus, como ocorreu no último sábado.
Segundo ele, outras países já registraram número de detidos superior aos 262 da PM de São Paulo.
"Em Londres, prenderam milhares e centenas foram processados porque há restrições judiciais mais severas", afirma.
O pesquisador Rafael Alcadipani, professor de métodos qualitativos de pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, avalia que ação teve êxito em diminuir as depredações.
"Mas a polícia tem também de se aprimorar para proteger pessoas que não iriam praticar violência, como os jornalistas", complementa.
Ele também alerta para maior desgaste dos policiais: "É uma estratégia que sobrecarrega um pouco a tropa. Houve cinco feridos".
O presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, classifica a conduta policial como inadequada: "A PM está lá, em primeiro lugar, para proteger os manifestantes e permitir que exerçam o direito constitucional de manifestação".
"A polícia só pode agir se houver algum tipo de ameaça. Agir por prevenção é restringir o direito de manifestação", afirma o ex-presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante Junior.
Geraldo Santamaria Neto, do grupo Advogados Ativistas (que defende manifestantes), avalia que a PM cometeu abuso de autoridade, lesão corporal e impediu advogados de trabalhar.
Colaborou PEDRO IVO TOMÉ
Editoria de arte/Folhapress | ||