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    Flautista retoma carreira que foi interrompida pelo vício do crack

    WILHAN SANTIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRINA (PR)

    18/08/2014 02h00

    Em um show de samba num bar de Londrina, o lugar de destaque no palco não é do vocalista, mas do flautista. Os frequentadores sabem por quê: o dono do instrumento é Charles Pereira Gonçalves, o Charles da Flauta.

    Charles, 41, aprendeu só a tocar aos dez anos e se apresentou até na Europa. Mas sua carreira foi interrompida pelo crack. Há alguns anos, tentou tratamento em São Paulo e hoje está no Paraná para ficar longe do vício.

    Aos 14 anos, ele, os dois irmãos e o pai começaram a se apresentar no centro de São Paulo. Depois que seu talento foi descoberto, recebeu lições de mestres como Altamiro Carrilho (1924-2012).

    Em 1988, gravou o LP "Pinguinho de Gente".

    Sergio Ranalli/Folhapress
    Charles da Flauta, que retomou a carreira em Londrina depois de deixar o vício do crack
    Charles da Flauta, que retomou a carreira em Londrina depois de deixar o vício do crack

    Aos 18 anos, pôs-se a usar drogas e foi tocar em semáforos para sustentar o vício. "Minha mãe morreu quando eu tinha dez anos. Eu e meus irmãos fomos morar com uma tia e passamos a ter amizades inapropriadas", conta.

    Primeiro usou maconha e cocaína. "Daí para o crack foi um pulo." Começou a morar na rua, foi internado cerca de 15 vezes e preso por tentativa de homicídio em uma briga de rua. Na penitenciária, dava aulas aos presos com uma flauta doce. Foram mais de quatro anos atrás das grades.

    Quando deixou a prisão, voltou às ruas. Sua sorte melhorou ao ganhar uma flauta transversal de um médico que levava sopa aos moradores.

    "Graças àquela flauta, juntei dinheiro para comprar outras duas. Aquele homem semeou em mim uma vontade de mudar." Depois, trocou São Paulo pelo Paraná.

    REMENDOS

    Hoje, o flautista gosta de recordar sua fase áurea e enumera colegas de palco, como Demônios da Garoa e Dominguinhos. Para se manter longe do crack, ele se apoia na fé evangélica.

    Colegas o elogiam. "Na primeira vez que ele chegou na nossa roda, não se identificou. Começou a tocar e ficamos impressionados", diz Osório Perez, 33.

    Ainda em 2014 deve lançar um CD, pelo selo Organismo Vivo, do músico Daniel Taubkin, e já pretende gravar outro. Ele também quer se casar e ajudar o irmão gêmeo, que mora nas ruas de São Paulo.

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