A seca que assola o Sudeste atinge ao menos 133 cidades e vai além dos pesadelos domésticos para seus 27,6 milhões de habitantes. Elas reúnem 23% do PIB brasileiro.
A riqueza envolvida corresponde a R$ 946,4 bilhões, a preços de 2011 (último ano com dados detalhados por cidade). Corrigido pela inflação (17,85%), o valor representaria hoje R$ 1,1 trilhão.
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Represa seca em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais |
Se fosse um país, esse novo "polígono da seca" em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro seria a segunda maior economia da América do Sul. Ficaria atrás só do Brasil.
Se em cada um desses municípios a produção caísse 1%, seria o bastante para tirar 0,23 ponto percentual do PIB nacional. O crescimento da economia neste ano está projetado para 0,3%.
A situação em São Paulo é a pior. De seus 645 municípios, 92 (14%) enfrentam algum tipo de dificuldade.
É difícil estimar quanto da economia foi afetada pela crise hídrica, mas empresas relatam prejuízos. A Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar) havia feito em abril projeção 2,9% menor para a safra 2014/2015 no centro-sul.
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Em agosto, piorou a estimativa de redução para 8,6%. O Estado de São Paulo deve ter um declínio de 11,71% na moagem de cana.
Em Paulínia (SP), a multinacional química Rhodia chegou a recorrer por um mês a um rodízio em quatro de suas 22 unidades.
O setor têxtil também é atingido. Segundo Rafael Cevone, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, há unidades inteiras paradas. Para piorar, o preço dos caminhões-pipa dobrou nos últimos meses (de R$ 600 para R$ 1.200 por 10 mil litros).
"Não dá para culpar São Pedro", diz Cevone. "Não foram feitos investimentos para interligação de mananciais e outras obras, como a maior captação do aquífero Guarani", queixa-se.
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) vem afirmando que fez investimentos necessários, mas atribui a crise a uma seca histórica.
MULTA
O levantamento feito pela Folha sobre o impacto da seca no Sudeste considerou cidades com relatos consistentes de falta d'água, como a capital paulista. Ao menos 61 cidades da região adotaram racionamento e 19 implantaram multas para inibir aumento do consumo.
ANDRADINA
A Prefeitura de Andradina (SP) informou à Folha que, devido à estiagem, os poços da cidade perderam a pressão e por isso pontualmente haveriam casos de desabastecimentos na cidade durante o período da tarde, voltando a normalidade no período da noite.
Após a publicação da matéria que classificava a cidade como em "crise hídrica", a prefeitura negou que viva uma crise de abastecimento e informou que, diferente do que havia dito antes, não há desabastecimento na cidade. Mesmo assi, a prefeitura admitiu a queda de pressão da água nas torneiras durante algumas tarde, devido à falta de chuvas.
Colaboraram LUCAS VETTORAZZO, do Rio, e GISELE BARCELOS, de Uberaba