Toda vez que surge um assassino em série ou réu confesso de crime brutal, o diagnóstico é quase imediato: fulano é psicopata.
No caso de Sailson das Graças, o roteiro deve se repetir. "Vai pipocar gente falando que ele é psicopata", aposta o psiquiatra Daniel Barros, coordenador do Núcleo de Psiquiatria Forense do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Na teoria, psicopatia é um desvio de personalidade extremo. Trata-se daquele cujo comportamento não tem freios, mesmo que provoque o sofrimento (ou a morte) de alguém.
Só que, assim como nem todo psicopata é criminoso, nem todo criminoso é psicopata. "É superficial e até leviano fazer telediagnóstico' ou tirar conclusões só com base em um tipo de ação."
Para Barros, se os crimes confessados por Sailson forem reais e de sua autoria, é possível concluir apenas que ele tem um comportamento homicida.
Se ele sentiu "prazer" ao matar, como declarou, trata-se de um caso que extrapola a psicopatia e o sadismo –o gozo com o sofrimento alheio.
E se ele tomou as precauções que relatou, demonstrou não ser psicótico, isto é, não estar delirando ao cometer os crimes.
Mas o psiquiatra alerta que casos como o de Sailson são delicados demais para que se tirem conclusões rápidas.
Esse tipo de confissão, diz, costuma fascinar as pessoas, que abrem mão do julgamento crítico.
O especialista cita o caso do maior serial killer da Suécia, réu confesso de 30 assassinatos, cujos relatos se revelaram uma farsa, contada no livro "O Caso Thomas Quick - A Invenção de um Assassino em Série", de Hannes Rastam (Ed. Record).
Em segundo lugar, há o impulso de enquadrar comportamentos criminosos em diagnósticos médicos.
"Há uma dificuldade da sociedade em lidar com a ideia de maldade, que é algo que existe", avalia. "As pessoas têm aflição disso e ficam buscando explicações e origens para a maldade de alguém."