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    Rio de Janeiro

    Assassinos em série podem não ser psicopatas, afirma psiquiatra

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    13/12/2014 02h00

    Toda vez que surge um assassino em série ou réu confesso de crime brutal, o diagnóstico é quase imediato: fulano é psicopata.

    No caso de Sailson das Graças, o roteiro deve se repetir. "Vai pipocar gente falando que ele é psicopata", aposta o psiquiatra Daniel Barros, coordenador do Núcleo de Psiquiatria Forense do Hospital das Clínicas de São Paulo.

    Na teoria, psicopatia é um desvio de personalidade extremo. Trata-se daquele cujo comportamento não tem freios, mesmo que provoque o sofrimento (ou a morte) de alguém.

    Só que, assim como nem todo psicopata é criminoso, nem todo criminoso é psicopata. "É superficial e até leviano fazer telediagnóstico' ou tirar conclusões só com base em um tipo de ação."

    Para Barros, se os crimes confessados por Sailson forem reais e de sua autoria, é possível concluir apenas que ele tem um comportamento homicida.

    Se ele sentiu "prazer" ao matar, como declarou, trata-se de um caso que extrapola a psicopatia e o sadismo –o gozo com o sofrimento alheio.

    E se ele tomou as precauções que relatou, demonstrou não ser psicótico, isto é, não estar delirando ao cometer os crimes.

    Mas o psiquiatra alerta que casos como o de Sailson são delicados demais para que se tirem conclusões rápidas.

    Esse tipo de confissão, diz, costuma fascinar as pessoas, que abrem mão do julgamento crítico.

    O especialista cita o caso do maior serial killer da Suécia, réu confesso de 30 assassinatos, cujos relatos se revelaram uma farsa, contada no livro "O Caso Thomas Quick - A Invenção de um Assassino em Série", de Hannes Rastam (Ed. Record).

    Em segundo lugar, há o impulso de enquadrar comportamentos criminosos em diagnósticos médicos.

    "Há uma dificuldade da sociedade em lidar com a ideia de maldade, que é algo que existe", avalia. "As pessoas têm aflição disso e ficam buscando explicações e origens para a maldade de alguém."

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