A "caixa-d'água de São Paulo" –como o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se referiu à represa Billings na última sexta-feira (30)– é uma das últimas esperanças para aliviar a grave crise hídrica e, ao mesmo tempo, uma gigantesca caixa-preta.
Poluído, o reservatório com capacidade para 1,2 trilhão de litros de água (mas hoje com 60,8% disso disponível) é preterido há décadas para o abastecimento humano.
E, apesar de a Sabesp afirmar que tem capacidade para tratar essa água, a sujeira e a falta de informações sobre a real extensão dos problemas da Billings causam desconfiança entre os paulistanos.
Uma incógnita, aliás, no momento em que outra "caixa-d'água", o sistema Cantareira, está perto de um colapso completo que ameaça colocar a Grande SP em um duríssimo rodízio de água.
Atualmente, uma parte da água da Billings é bombeada para a represa de Guarapiranga, e outra serve a região do ABC. O que os especialistas indicam não é nada animador.
Análise realizada a pedido da Folha pela bióloga Marta Marcondes, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, apontou a concentração de coliformes fecais cem vezes maior do que o estabelecido pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
Também foram encontradas bactérias que causam gastroenterite, infecção urinária, diarreias com sangue e até a perfuração do intestino.
Compostos como nitritos e fosfatos, indicadores de material orgânico em decomposição, também foram encontrados acima dos valores estabelecidos pelo Conama.
Em 2008 e 2010, estudos da USP apontaram problema ainda maior: a presença de metais pesados, potencialmente cancerígenos, como chumbo, cobre e níquel nos leitos da Billings e da Guarapiranga.
Para quem pesquisa o local, novos problemas podem surgir dessa caixa-preta com o aumento da captação.
"Quanto mais profunda for a água captada, maior a probabilidade de contaminação por esses poluentes", diz Werner Hanisch, professor de engenharia química da Unifesp.
Os caminhos que levam os poluentes ao reservatório passam pelo rio Pinheiros e pela ocupação irregular ao longo das margens da Billings.
A degradação nas proximidades da usina Pedreira, que faz a reversão do rio em direção à represa, e nos braços mais próximos chamou a atenção de Hanisch, ao sobrevoar a represa a convite da Folha. "Não era assim. Vem piorando muito nos últimos tempos. Esse cheiro constante e forte de fezes, por exemplo, começou há pouco tempo."