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    Denunciada pelo médico, jovem diz que não faria aborto ilegal de novo

    MONIQUE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    24/02/2015 02h00

    Após abortar em casa com comprimidos de Cytotec, medicamento para úlcera usado como abortivo, a jovem J., 19, auxiliar de cabeleireira, passou mal e foi levada para a emergência do Hospital São Bernardo, em São Bernardo do Campo (Grande SP) na segunda (16).

    No hospital, foi atendida, mas acabou sendo denunciada pelo médico, que chamou a polícia. Abaixo, ela conta o que passou no hospital e por que decidiu abortar.

    *

    Depoimento...

    Engravidei pela primeira vez aos 15 anos com o meu namorado da época, que tinha 25. Tive o filho e hoje ele tem quatro anos. Era muito nova. Não recebo pensão até hoje.

    Tudo aconteceu logo que perdi a virgindade. Eu até sabia que existia pílula anticoncepcional, mas não tinha como comprar. Minha mãe achava que eu era virgem.

    Com esse outro parceiro, agora, eu estava tomando a pílula, mas tentava trocar a marca. Deve ter sido por causa dessa troca que eu acabei engravidando.

    Moro com os meus pais, que são os únicos que me ajudam. Parei de estudar, estava no segundo ano [do ensino médio]. Na época, foi uma situação muito difícil pra mim e para minha família.

    Com tudo isso, decidi abortar. Não tenho uma renda fixa e recebo por trabalhos que faço no salão. Também não queria jogar mais essa nas costas dos meus pais.

    Eu não estava em um relacionamento sério e encontrava esse parceiro de vez em quando. Eu não tive ajuda no primeiro filho e sabia que não ia ser agora que teria.

    Escondi dos meus pais essa gravidez. Eles só ficaram sabendo quando o médico chamou a polícia e eu precisava pagar a fiança. No fim, acabaram entendendo.

    Consegui comprar o medicamento para abortar perguntando para um e para outro até chegar a alguém com quem poderia conseguir os comprimidos.

    O remédio custava R$ 300 e eu não tinha o dinheiro. Tive que ir juntando nesse período e acabei abortando no quarto mês de gestação.

    Depois de passar muito mal, fui levada pela minha tia para o hospital. Lá, eu até falei que estava grávida e que não estava bem. Mas não falei o que tinha feito, que tinha tomado os comprimidos.

    Quando o feto saiu, o médico me pressionou. Disse que se não contasse ia ser pior para mim. Ele foi grosso, bem ignorante mesmo [procurado, o médico não quis falar]. Depois, eu só vi que a polícia estava chegando. Estou tentando buscar um advogado.

    Vou voltar a estudar e fazer faculdade, se Deus quiser.

    Quero fazer um curso de cabeleireira também para ter uma renda. Não tenho vontade de ter mais filhos. Eu não tinha muita escolha depois de já ter acontecido. Também não abortaria novamente.

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