O relato de estupro de uma garota de 12 anos por três adolescentes no banheiro de um colégio estadual está longe de ser caso isolado e faz parte de uma cultura de violência contra mulheres cuja mudança deve começar justamente nas escolas, com programas de educação sexual e igualdade de gênero para idades cada vez mais precoces.
É isso que defendem especialistas brasileiros e internacionais que participaram, nesta quarta (20) e quinta (21), do 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra a Mulher, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog e pelo Instituto Patrícia Galvão, na capital paulista.
Apenas em 2013, foram registrados mais de 50 mil estupros no Brasil —um a cada dez minutos. Mas estudos estimam que a estatística oficial seja só 10% do total de casos.
"Estimamos que ocorram mais de 500 mil estupros por ano no país, sendo que 70% deles têm como vítimas crianças e adolescentes", afirma Aline Yamamoto, secretária-adjunta de enfrentamento à violência da Secretaria de Políticas para a Mulher, ligada à Presidência da República.
Para Marai Larasi, diretora executiva da ONG Imkaan, que atua no combate à violência contra mulheres, muitos meninos crescem em contextos com mensagens que dizem que os corpos das meninas estão à disposição deles.
"Há uma ideia comum de masculinidade que diz aos jovens meninos que, para serem homens, eles têm de se comportar de maneira predatória e agressiva do ponto de vista sexual", avalia.
Roz Hardie, diretora da ONG Object, do Reino Unido, argumenta que a persistente exploração dos corpos femininos como objeto desumaniza as mulheres e ainda traz graves consequências. "É mais fácil ser violento com uma coisa do que com uma pessoa", resume.