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    Drag queen, Tchaka defende Parada Gay menos 'paradona'

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    07/06/2015 02h00

    Tchaka usa maquiagem fosforescente e figurinos que, com tantos babados e penduricalhos, lembram um bolo de aniversário de criança.

    Mesmo assim, às vezes consegue ser mais discreta do que o preconceito, brinca.

    A drag queen lembra de quando uma mulher a contratou para animar a festa de 30 anos do marido em Moema (zona sul). "Camisa bege, sapato bege, calça bege, meia bege. O homem 'nude' nem olhou na minha cara", diz.

    Antes de partir, Tchaka disse à mulher: "Boa sorte. Só fiquei 10 minutos com ele, mas você vai passar a vida toda".

    Em vez de discursos homofóbicos, ela diz ocupar a cabeça com uma das 30 perucas que guarda em seu apartamento, na rua Augusta. É lá que Valder Bastos, 45, que encarna a drag há 15 anos, vive com o marido, Carlos, e a yorkshire Jujuba, rodeados de estatuetas como o Troféu Arrasa e a réplica de seu pênis caracterizada como travesti.

    Tchaka, batizada a Nossa Senhora Protetora das Festas num "translendário" de 2014, será a apresentadora da Parada Gay deste domingo (7). Ela defende uma parada menos "paradona", que não se renda à "heteronormatividade" -se quiser beijar diante de todos, "beija muito".

    "Quando índio vai a Brasília protestar, vai com cores e gritos de guerra, pintado como acredita, não? Para a gente, é luta e também festa", diz.

    A "batalha" de Valder começou no Ano-Novo de 2000.

    Os amigos sugeriram que ele se montasse. Comprou tecidos na rua 25 de Março e se maquiou com pasta de dente nas pálpebras. "Fiquei tão horrível que me apelidaram de Tchaka", diz, evocando o macaquinho da série de TV "O Elo Perdido" (1974-76).

    PALESTRAS

    Hoje, Tchaka está com a macaca. Dá palestras motivacionais a empresas como Shell e Citroen. Criou uma agência de festas com drags, "gogo boys" e anões (às vezes tudo ao mesmo tempo). E tem uma coleção de sandálias -20 modelos "estilo pin-up, de tamanhos de 33 a 44 bico largo, para jogadores de basquete que querem se jogar no crossdressing".

    Para o Dia dos Namorados, gravou um vídeo em que recebe do marido uma sacola da Boticário -a empresa que fez um comercial com casais do mesmo sexo e foi criticada pela clientela evangélica.

    Irmão de dois pastores e filho de mãe da igreja Batista, Valder era "o rapaz tímido que vivia uma mentira ao lado da namorada".

    Assumiu-se gay e, hoje, Tchaka é membro da família. São cinco irmãos, diz, e logo é corrigido por Carlos, o marido. "Quatro e meio, né, queridinha?"

    Gabriel Cabral/Folhapress
    São Paulo, SP, Brasil, 03-06-2015: Valder Bastos, Tchaka, 44. Drag queen será a apresentadora da Parada do Orgulho LGBT 2015. (foto Gabriel Cabral/Folhapress)
    São Paulo, SP, Brasil, 03-06-2015: Valder Bastos, Tchaka, 44. Drag queen será a apresentadora da Parada do Orgulho LGBT 2015. (foto Gabriel Cabral/Folhapress)

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