• Cotidiano

    Thursday, 25-Apr-2024 18:40:58 -03

    Negros ocupam só 18% dos cargos de elite, aponta levantamento

    ADRIANO MANEO
    THIAGO AMÂNCIO
    DA EDITORIA DE TREINAMENTO

    08/06/2015 02h00

    Sexta-feira, 19h, entrada da PUC de São Paulo. Nos 30 minutos que antecedem as aulas, passam 356 brancos, 75 pardos, 16 amarelos e seis pessoas de pele preta.

    Sábado, 14h45, entrada do bloco C do hospital Sírio-Libanês. Passam pela catraca 195 pessoas: 169 brancos, 14 pardos, seis amarelos e seis negros (um é segurança).

    Domingo, 13h20, praça de alimentação do shopping Iguatemi de São Paulo. 147 pessoas almoçam: 137 brancas, sete pardas e três amarelas. Nenhuma de pele negra.

    Negros e pardos são 50,7% da população, mas ainda são raros na elite. O que se constata nos redutos da elite paulistana bate com levantamento feito pela Folha com 1.138 profissionais em postos de destaque na política, saúde, artes, Judiciário e academia.

    A pesquisa foi feita seguindo critérios do Censo, que pede autodeclaração de cor aos entrevistados. O IBGE divide a população em cinco categorias: branca, preta, amarela, parda e indígena. Especialistas agrupam pretos e pardos numa mesma categoria, de negros. Quem não respondeu à enquete da Folha foi classificado com base em fotos.

    Nas 20 maiores empresas do país, apenas um presidente se considera pardo, Marcelo Odebrecht. "Mais que preconceito, [o fato de haver poucos empresários negros] reflete nossa realidade socioeconômica e o acesso à educação", afirma.

    Editoria de Arte/Folhapress

    EXCEÇÃO

    Quarenta anos antes de faturar R$ 50 milhões por ano com desmanche legal de caminhões, o empresário Geraldo Rufino, 56, negro, catava latinhas em aterro sanitário. Foi trabalhar como office-boy em multinacional, subiu até virar diretor e, aos 21, saiu para criar seu próprio negócio.

    Apesar de ser exceção, Rufino diz que racismo só é problema para quem acredita nisso. "É coisa que põem na cabeça das pessoas. Se o negro tiver desenvolvimento e uma situação financeira estável, racismo é secundário."

    Segundo Marcelo Paixão, negro, professor de economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a situação é mais complexa. "É importante analisar a relação entre raça e renda pelo ângulo das outras dimensões que a pobreza pode assumir, principalmente a pobreza da representação. Na política, nas artes, na mídia", diz.

    Dos 513 deputados federais, 80% são brancos. Na Justiça, a prevalência dos brancos é ainda maior: 29 dos 33 ministros do Superior Tribunal de Justiça são brancos, três são pardos e um, preto.

    O ministro aposentado Carlos Alberto Reis de Paula, 71, que foi o primeiro presidente negro do Tribunal Superior do Trabalho, afirma que casos de racismo se repetiram ao longo de sua vida.

    Ele lembra, em especial, quando foi impedido de entrar em um clube, em 1967. "As coisas para nós, negros, sempre foram mais difíceis."

    O empresário Geraldo Rufino discorda inclusive das cotas raciais. "Quem está em escola pública e não tem condição financeira, mas tem o olho claro, não tem direito a cota. O outro nem para a escola vai direito, mas tem a pele escura e tem cota? Isso, para mim, é racismo."

    ADRIANO MANEO e THIAGO AMÂNCIO fizeram o Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, patrocinado por Friboi, Odebrecht e Philip Morris Brasil.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024