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    'Matador' nos ringues da luta livre agora é evangélico e cantor gospel

    MARCELO TOLEDO
    ENVIADO ESPECIAL A TABATINGA (SP)

    30/06/2015 02h00

    Pierre Duarte/Folhapress
    Aquiles, atualmente cantor gospel, diante de fotos de sua época de astro da luta livre, onde ganhou o aposto de 'Matador
    Aquiles, atualmente cantor gospel, diante de fotos de sua época de astro da luta livre

    Do "monstro" que mordia os oponentes, adorava sangue e levou um rival à morte após um combate não existe mais nada. Líder dos vilões, odiado pelo público que lotava ginásios país afora ou acompanhava a transmissão pela TV, o ex-lutador Aquiles, o Matador, 77, mudou.

    Aposentado há quase duas décadas dos ringues, ele virou evangélico e cantor gospel e vive na pequena Tabatinga, cidade de 15 mil habitantes a 331 km de São Paulo.

    Aquiles, batizado como Vespaciano Félix de Oliveira, foi um dos ícones de programas de luta livre exibidos em emissoras como Excelsior, Globo, Gazeta e Record entre as décadas de 1960 e 80, numa época em que nem se sonhava com o UFC.

    Começou no boxe em 1960, em São Paulo. Passou para a luta livre como amador, ainda conhecido só por Aquiles. Após alguns anos, surgiu a oportunidade de ir à TV participar de um programa com outros lutadores. Daí em diante a carreira deslanchou.

    Com caretas e expressões malévolas, Aquiles ganhou o aposto de "matador" quando um lutador morreu depois de lutar contra ele, nos anos 60.

    Participou de programas de TV, como o extinto "Balança Mas Não Cai", da Globo, de um filme de Dedé Santana, "Deu a Louca no Cangaço", e ganhou muito dinheiro, de acordo com ele. Tudo gasto com carros de luxo.

    Viajou pelo país, liderando o time de vilões dos ringues, em programas como o "Gigantes do Ringue" ou "Reis do Ringue". Ao seu lado estavam personagens como Múmia, Caveirinha, Homem Montanha e Belo, o Carrasco Português. No time dos mocinhos, Michel Serdan, Mister Argentina e Neves eram os destaques.

    Chegava para a luta de nariz empinado, sem sorrir e provocando o público. Fez duas lutas consideradas históricas por fãs: acorrentado, contra o Mister Argentina, e dentro de uma jaula, contra Michel Serdan.

    Além da trupe do programa televisivo, enfrentou Ted Boy Marino, adversário que criticava por ser "bonitinho" e atrair os olhares femininos.

    Aquiles admite a teatralidade das lutas, que misturavam atos circenses aos combates, e que podia haver acordos para definir os vitoriosos –mas não em suas lutas.

    "A gente exagerava nas expressões, dramatizava um pouco, mas eu não entrava sabendo quem venceria, entrava para quebrar o cara. Sou crente, não posso mentir."

    Exibe marcas de pontos na perna, na boca e na cabeça, "conquistados" em ringues, segundo ele.

    A mudança em sua vida ocorreu após se aposentar dos ringues, em 1994, quando foi visitar um amigo em Tabatinga. Resolveu ficar um ano, mas está lá até hoje.

    Aposentado, nem de longe se parece com o "sanguinário" lutador das fotos que ilustram as paredes e mesas de um cômodo em sua casa.

    Mora com a terceira mulher há oito anos –tem cinco filhos, de outros dois casamentos– e sua rotina inclui nadar num centro esportivo e cantar na igreja Assembleia de Deus Aliança.

    Gravou um CD, com mil cópias, por conta própria, que distribui a amigos e a membros da igreja. Suas canções são tocadas numa rádio local e ele se apresenta em igrejas da região.

    "Não ligo de ter gastado o que gastei, porque a melhor riqueza que tenho hoje é Jesus. Era fechado, carrancudo, hoje sou alegre", disse.

    Em uma rede social, trocou o "matador" por "lutador". Questionado se isso teve relação com a conversão religiosa, Aquiles afirma que sim, mas que não pode esconder seu passado.

    "Deixei de lado [o 'matador'], mas é indiferente. Não posso negar o que fui", afirma ele, antes de se despedir do repórter interpretando um hino gospel.

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