Gregory Deralus, um dos seis haitianos atingidos por balas de chumbinho em São Paulo, disse que não percebeu na hora que tinha sido baleado. "No primeiro momento eu achei que era uma pedrada", afirmou.
Na noite de sábado (1º), o estrangeiro foi atingido por um projétil na perna enquanto caminhava pela rua Glicério, na região central de São Paulo, onde mora.
Nesta segunda (10), a Secretaria Municipal de Saúde divulgou nota informando que os ferimentos foram causados por chumbinho.
Deralus relata que, no dia seguinte à agressão, foi à igreja Nossa Senhora da Paz –que oferece assistência a imigrantes e refugiados– e contou o caso a um amigo. Foi então que descobriu que não tinha sido a única vítima das balas de chumbinho.
Na mesma noite, outros cinco haitianos –quatro homens e uma mulher– foram atingidos por tiros de chumbinho na região das pernas e do quadril. Todos os casos foram registrados na mesma região, que é muito frequentada por imigrantes.
Segundo relato de uma testemunha à polícia, um dos ocupantes de um veículo que passava pelo local teria gritado "haitiano!" e logo depois disparado contra as vítimas.
"[A pessoa] só passou na rua e atirou, não deu pra ver quem foi", afirmou Deralus.
Reprodução/TV Globo | ||
O haitiano Gregory Deralus após prestar depoimento à polícia nesta segunda-feira (10) |
ATENDIMENTO
Na sexta-feira (7), os feridos foram levados até a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) na Sé, que atende casos de baixa e média complexidade, mas precisaram ser transferidos para a Santa Casa, de acordo com a Secretaria de Saúde.
"Fui ao hospital, fizeram exames e tiraram radiografia. Aí que eu vi que tinha uma bala de chumbinho alojada na minha perna", afirmou Deralus.
Três dos haitianos receberam alta na própria sexta, após serem examinados.
Os outros três, incluindo Deralus, precisaram passar por nova consulta nesta segunda no hospital municipal Doutor Carmino Caricchio, no Tatuapé (zona leste).
De acordo com a Secretaria de Saúde, dois dos haitianos foram submetidos a exames pré-operatórios e passarão por cirurgia para remover estilhaços de bala na próxima semana. O terceiro ferido deve passar por nova avaliação clínica, também na semana seguinte.
O estrangeiro afirma que não sabe se foi vítima de xenofobia. "Eu não posso explicar se [a agressão] é porque sou haitiano. Eu não tenho problema com ninguém."
Ao ser questionado se teria medo de morar em São Paulo após o ataque, o haitiano negou. "Não, medo não. Todo país tem bandido."
O padre Paulo Parisi, responsável pela paróquia Nossa Senhora da Paz, informou que ainda não sabe se os atiradores agiram por xenofobia ou por vingança, já que um haitiano teria recuperado a bolsa de uma mulher que havia sido assaltada no Glicério e devolvido a ela.
Em nota, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania informou que vai acompanhar o caso.
A pasta informou ainda que "repudia o ato e ressalta o compromisso desta gestão em combater toda e qualquer forma de violência e xenofobia na cidade".