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    Hotel mostra que cientista negro não foi barrado

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    29/08/2015 15h57

    O professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), Carl Hart, 48, disse neste sábado (29) não ter testemunhado a suposta cena em que foi barrado no hotel Tivoli Mofarrej, conforme circulou na web. Ele disse que, assim que chegou para proferir a sua palestra, foi direto ao banheiro. O hotel, nos Jardins (zona oeste de SP), apresentou à Folha imagens do circuito interno que mostram que Hart não foi barrado por seguranças.

    "Quando saí [do banheiro], os organizadores da conferência vieram pedir desculpas pelo que aconteceu. Disseram que, quando cheguei, um segurança do hotel iria me abordar porque eu não parecia pertencer àquele ambiente. Mas eu não testemunhei nada disso, foi o que me disseram", afirmou Hart em entrevista ao site Fluxo.

    O professor disse ainda que, se tivesse notado algo, "seria a primeira pessoa a dizer algo sobre isso". Na noite de sexta-feira (28), a Folha havia entrado em contato para confirmar informações que circulavam sobre o suposto constrangimento ao neurocientista.

    Quando questionado se ele havia sido impedido de entrar no hotel, o pesquisador respondeu por e-mail: "É verdade, mas foi [algo] menor". Hart, porém, não deu detalhes do que ocorreu na ocasião.

    Daniel Marenco/Folhapress
    Carl Hart é professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos
    Carl Hart é professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos

    HOTEL TIVOLI MOFARREJ

    O hotel Tivoli Mofarrej, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), negou na manhã deste sábado (29) que tenha barrado o neurocientista Carl Hart.

    Imagens do circuito interno apresentadas à Folha indicam que, até entrar em seu quarto, Hart não foi abordado por funcionários do estabelecimento e que ele andou livremente pelo saguão do hotel.

    As gravações mostram o palestrante chegando ao hotel acompanhado de um homem de terno, na manhã de quinta (27). Durante a entrada e a passagem deles pelo saguão e pela área do evento, a circulação dos dois ocorre sem impedimentos. A administração do hotel nega que esse homem seja funcionário do local.

    Momentos depois, quando Hart volta ao saguão para buscar as malas, ele e o acompanhante são abordados por um organizador do evento. Não é possível ouvir o que é conversado, mas, em seguida, o pesquisador se dirige à recepção do hotel, onde faz o check-in. Ele segue sozinho para o quarto, e o homem que o acompanhava vai embora.

    "Segundo as imagens, em momento algum Hart foi abordado por seguranças ou impedido de entrar no hotel", disse Renaud Pfeifer, gerente-geral do Tivoli. O hotel afirmou ainda ter entrado em contato com o hóspede, que negou ter sido barrado durante a sua estada.

    PESQUISADOR

    Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), Carl Hart, 48, esteve em São Paulo para uma palestra a convite do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), em São Paulo.

    A palestra de Hart no evento foi sobre como a guerra às drogas tem sido usada para atingir certos grupos sociais mais vulneráveis, entre eles, jovens pobres e negros, em lugares como o Brasil e os EUA.

    Em entrevista à Folha, Hart, que pesquisa drogas há 20 anos, disse que sua percepção sobre o assunto mudou drasticamente quando começou a "olhar para quem estava preso por crimes ligados às drogas nos EUA".

    "Apesar de os negros serem menos da metade dos usuários de drogas nos EUA, eles compõem muito mais da metade dos presos por causa de drogas. Um em cada três jovens negros americanos serão presos pelo menos uma vez na vida por causa das leis de drogas", explicou. "Ou seja, a guerra às drogas tem sido usada para marginalizar os pobres."

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