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    Nos anos 70, fechamento de ruas do centro gerou discórdia em São Paulo

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    30/08/2015 02h00

    Um prefeito de São Paulo decide fechar ruas da cidade para os carros. Definitivamente. Motoristas se revoltam. Comerciantes temem perder clientes. Vereadores reclamam na Câmara.

    "O centro volta ao dono". Foi esse o título da Folha no dia 4 de setembro de 1976, um dia depois que 20 tradicionais ruas do centro da capital foram abertas de vez para pedestres e fechadas para os veículos -em algumas, só foram permitidos ônibus e táxis.

    A decisão foi do banqueiro Olavo Setúbal, prefeito entre 1975 e 1979. O projeto "Ação Centro" queria restringir o uso do "carro particular" e criar um calçadão que seria "uma área destinada exclusivamente ao lazer".
    O então prefeito pedia que se priorizasse o transporte público para chegar à região.

    Quase 40 anos depois, o atual prefeito, Fernando Haddad (PT), também quer interditar ruas e avenidas para torná-las pontos de lazer, aos domingos. Estão na lista a Faria Lima (zona oeste) e a Tiquatira (zona leste), além da Paulista, que já foi fechada aos carros duas vezes neste ano.

    Haddad também encara resistência. Associações de bairro alegam que a medida pode causar prejuízo às vendas do comércio e dificultar o acesso de moradores a lojas da região.

    COMÉRCIO REAGE

    Em 1976, algumas ruas, como a Direita e a São Bento, já tinham grande trânsito de pedestres –a região ainda era o coração financeiro da cidade. Na prática, poucos carros conseguiam passar por elas.

    Em outras, como Barão de Itapetininga e 15 de novembro, os veículos circulavam livremente. Quando Setúbal anunciou que elas virariam calçadões, o comércio reagiu.

    "As pessoas que vêm fazer compras de carro irão para os shopping centers", reclamou, no jornal, a gerente Teresa Andrade, das Lojas Sarú ("modas infantis").

    Também ouvido, Edson Heidi, dono da loja de tecidos importados Santa Branca, temia que a restrição resultasse na perda de clientes, que até então podiam estacionar na frente da sua loja na Barão de Itapetininga.

    "Eu tinha 16 anos em 1976, já frequentava a loja do meu pai. Depois que fecharam a Barão e outras ruas, o movimento de clientes diminuiu muito", disse Edson Paulo Heidi, 55, filho do comerciante e hoje corretor de imóveis.

    Setúbal também enfrentou resistência na Câmara. "A Ação Centro está sendo executada sem planejamento. A cidade vai ficar congestionada e tumultuada", reclamou o vereador José Storopolli, do MDB, partido de oposição. No mesmo ano, o prefeito também criou as "ruas de lazer" –vias abertas para recreação de moradores– em bairros como Casa Verde, Jabaquara e Saúde.

    ONDE ESTÃO OS CARROS?

    Naquele 4 de setembro de 1976, o texto da Folha começava assim: "Será que é a Barão de Itapetininga? Uma família caminhando no meio da rua, um bebê ensaiando os primeiros passos [...] E os carros, onde estão os carros?"

    A reportagem relata que muitos pedestres ainda andavam nas calçadas e olhavam para os lados antes de atravessar, como se corressem risco de atropelamento.

    "Os calçadões em São Paulo seguiram uma tendência que surgiu na Alemanha, em 1930, de abrir as ruas mais movimentadas para as pessoas", diz a urbanista Camila D'Ottaviano, professora da USP.

    Para Marco Antônio Ramos, da associação Viva o Centro, os calçadões precisam ser reformulados. "Hoje entra carro oficial, viatura da polícia, carro forte, o que acaba detonando o calçamento". Segundo ele, a prefeitura deveria criar regras mais claras para orientar a circulação de carros nas ruas fechadas.

    Colaborou o BANCO DE DADOS

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