Quando o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre, 72, coordenou a reforma da praça da Sé, em 1978, ele imaginava um local de "convivência pacífica, não de luta, violência".
Arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Lefèvre esteve à frente do projeto paisagístico feito para adequar a praça à estação de metrô que estava sendo construída no centro geográfico da cidade.
À Folha ele comentou o tiroteio que deixou dois mortos nas escadarias da catedral da Sé na sexta (4).
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É uma tristeza. É algo que deixa a gente chateado, um momento de violência como esse. Teria sido melhor deixar acalmar a coisa, deixar a polícia se encarregar disso. Acho que foi imprudência do rapaz que tentou salvar a moça.
Uma coisa como essa reduz a sensação de segurança na cidade como um todo. Conheço a praça da Sé desde menino. Já passei "n" vezes por aquele lugar. O projeto da praça da Sé de 1978, de quando foi feita a estação [de metrô], fui eu que coordenei.
Ela é um dos espaços centrais de São Paulo. Quando foi reinaugurada, em 1978, a praça era um local de visitação. Depois, por vários problemas, inclusive a presença de ambulantes, deixou de ser um local frequentado pela população. No começo, as pessoas iam com família ver o espelho d'água. Deveria ser um local de lazer, e não de apreensão.
Uma praça é local de encontro das pessoas, de permanência, de confraternização e de convivência. De convivência pacífica, não de luta, briga ou violência. Foi projetada para ser um local de confraternização.
[A violência] não é uma coisa que afeta só a praça da Sé, mas a cidade como um todo. A vigilância –não necessariamente pela polícia ostensiva porque acho que ela sempre cria sensação ruim– por câmeras, pode ser uma solução.
A iluminação é um dos problemas da praça. Era para ter a vegetação cortada para permitir a visibilidade. Sem esse cuidado, você cria lugares sombrios.
Só que ali foi no espaço mais visado, né? Parecia que ele estava num palco. Lugar mais visível que aquele não tem.