O incêndio que atingiu o Museu da Língua Portuguesa na tarde desta segunda-feira (21) não foi o primeiro na história do tradicional prédio paulistano.
Na madrugada de 6 de novembro de 1946, às 2h15, o fogo irrompeu no prédio e foi necessária a mobilização de todos os recursos do Corpo de Bombeiros, conforme a Folha noticiou na capa do jornal "Folha da Manhã" daquele dia.
Fotos do dia seguinte ao incêndio mostravam a torre principal da estação, "envolta em densa fumarada e sob os jactos d'água da mangueira levada até ao alto pela escada Magirus", como escreveu a Folha na época. O relógio original, na torre maior, também sucumbiu.
A reportagem relata que, na época, a escassez de água dificultou o trabalho do Corpo de Bombeiros. "Os bombeiros viam seus esforços quase anulados pela escassez e água", dizia a matéria.
O incêndio de 1946 marcou o declínio da edificação. Segundo relatos da época, a causa fogo pode ter sido criminosa. O fogo surgiu de madrugada, dois dias antes de terminar a concessão dada pelo governo paulista à companhia inglesa SP Railway, que administrava o local. Por isso, a administração da estação da Luz voltaria ao governo. As chamas consumiram os documentos da SP Railway.
A HISTÓRIA DA ESTAÇÃO
Construída para ser a grande porta de entrada da cidade, por onde passaria o café do interior e os imigrantes vindos de Santos, a estação da Luz, muito semelhante a atual, existe desde 1902. Uma outra, modesta, funcionava no mesmo espaço desde 1867.
"O que veio da Europa, desmontado, era o teto de aço. Os tijolos, por exemplo, foram feitos aqui, em olarias que a própria SP Railway incentivava que fossem feitas", diz o arquiteto Lúcio Gomes Machado, professor da FAU.
Apesar da influência inglesa na arquitetura do prédio, o estilo eclético do projeto era bastante usual para a época. "Ele acabou sendo incorporado pela alta burguesia paulistana aqui na cidade", afirma Gomes Machado.
Após o incêndio de 1946, coube ao governo federal reconstruir as áreas destruídas pelas chamas.
A partir dos anos 1950, com o incentivo dado ao transporte por automóvel, e até ao setor aéreo, as ferrovias de passageiros de longa distância caíram no ostracismo.
O percurso que antes ligava Santos a Jundiaí, passaria a ser cada vez menos atraente. No início dos anos 1990 os trens deixaram, em definitivo, de descer a serra.
O prédio da estação da Luz passou a ser desgastado pela ação do tempo, mesmo após o seu tombamento pelo patrimônio histórico, em 1982.
Em 1994, a CPTM assumiu a administração da estação e seus trens de passageiros passaram a servir moradores da Grande São Paulo.
No início dos anos 2000, uma reforma foi feita em todo o complexo, incluindo uma área da estação que estava abandonada e sem uso e que futuramente recebeu o Museu da Língua Portuguesa.
As fachadas passaram por um minucioso trabalho de restauração. Até as cores foram estudadas e escolhidas para remeter à arquitetura original do local.
Junto com a forma, a função da estação não foi esquecida, afirma Gomes Machado. Isso porque, hoje nos subterrâneos da Luz, se unem os trens suburbanos e duas linhas de Metrô de São Paulo, por onde passam mais de 200 mil pessoas todos os dias.